O irreversível

By | 06/10/2022 7:43 am

País fica inviável se não for superado o profundo choque Lula-Bolsonaro

(Coluna de William Waack, Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN, em 06/10/2022)

Foto do autor: William Waack

Confirmou-se no domingo que Lula é maior que a esquerda e Bolsonaro, menor que a direita. Tanto nas eleições proporcionais quanto nas diretas o avanço de nomes ligados à “esquerda” foi menor do que Lula conseguiu para si mesmo. Da mesma maneira, Bolsonaro ficou menor no primeiro turno do que a projeção alcançada pela “centro-direita”.

Claro que isso tem a ver diretamente com os dois personagens. Lula continua sendo para uma expressiva camada do eleitorado o “pai dos pobres” – algo só comparável ao que foi o getulismo, e igualmente irreversível como fenômeno de massas.

É uma espécie de 'Brasil profundo' que saiu rugindo das urnas, e que dificilmente se enquadra nas convenções da Ciência Política sobre o que seja direita ou esquerda.
É uma espécie de ‘Brasil profundo’ que saiu rugindo das urnas, e que dificilmente se enquadra nas convenções da Ciência Política sobre o que seja direita ou esquerda. Foto: Werther Santana/Estadão

Bolsonaro é considerado um “mito” por outro fenômeno também irreversível, o bolsonarismo. Ocorre que dentro da demanda geral do eleitorado, que é claramente de centro-direita, Bolsonaro não é unanimidade e angariou forte rejeição mesmo entre os que detestam Lula.

Caso se confirme seu favoritismo atual, Lula terá de lidar com dois amplos problemas políticos que, se não forem resolvidos, tornam o País inviável. O primeiro é a herança da Lava Jato. Ao contrário do que diz Lula, parcela significativa do eleitorado não acha que a operação anticorrupção foi um erro, e o enxerga apenas como um ladrão.

O segundo é a amplitude eleitoral da demanda de “centro-direita”, que não pode ser igualada a “bolsonarismo” (entendido como adesão cega ao líder populista). Mas é o que fez a estratégia petista quando buscou o voto útil dizendo que ajuda o fascismo e a barbárie quem não vota no Lula. O Congresso eleito é um banho de realidade (e uma dura resposta) para a campanha petista.

É uma espécie de “Brasil profundo” que saiu rugindo das urnas, e que dificilmente se enquadra nas convenções da Ciência Política sobre o que seja direita ou esquerda. Talvez a antropologia cultural seja a melhor disciplina para se tentar entender. Há nessa ampla corrente traços de arraigada boçalidade política (incluindo todo tipo de preconceito), aversão às elites e à ciência, aos princípios democráticos e instituições em geral (Judiciário e imprensa, entre outros).

Mas também apego à liberdade do indivíduo, disposição de empreender, necessidade de segurança jurídica, simplificação de regras, solidariedade com os mais vulneráveis, valores religiosos e de família. E uma forte identificação com a difusa ideia (que a figura de Bolsonaro capturou lá atrás) de que os sistemas político, eleitoral e de governo atuam contra o Brasil “que trabalha e produz”.

Lula não indicou claramente como pretende superar o quadro acima caso volte ao Planalto. Bolsonaro, se reeleito, não poderá contar com o apelo que já representou. Não serão tempos fáceis.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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