Chantagem golpista

By | 11/10/2022 7:10 am

Bolsonaro flerta com adulteração do STF, que teria dificuldade em levar adiante

 

(Editorial da Folha, em 10/10/2022)

O presidente Jair Bolsonaro (PL), em entrevista no Palácio da Alvorada – Gabriela Biló/Folhapress

É difícil imaginar uma tese golpista que Jair Bolsonaro (PL) não esteja disposto a abraçar ou, no mínimo, a permitir que prospere. Assim se dá agora com o projeto para elevar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal.

A proposta foi retirada do baú autoritário na esteira das vitórias de bolsonaristas e assemelhados nas disputas para o Legislativo. Um desses casos foi o do próprio vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos), um general da reserva saudoso dos confortos da ditadura e eleito senador pelo Rio Grande do Sul.

Se Mourão defendeu sem pudores a adulteração da principal corte do país, Bolsonaro entrega-se a rodeios desde sexta-feira (7), quando despejou mais uma saraivada de ataques sobre os tribunais superiores. Naquele dia, disse que examinaria o tema após o segundo turno da corrida presidencial.

Na hipótese de reeleição, recordou, terá a oportunidade de ampliar de 2 para 4 seus indicados entre os 11 ministros do STF; pelo projeto aventado, haveria outras 5 novas indicações a fazer.

Trata-se de um roteiro conhecido e celebrizado no continente pelo caudilho venezuelano Hugo Chávez —precursor da ditadura à qual Bolsonaro sempre associa seus arquirrivais petistas.

Em vez das velhas quarteladas, o governante se aproveita de momentos de elevado apoio popular ou congressual para enfraquecer, passo a passo, os freios a suas vontades —Judiciário, imprensa, oposição. Mesmo formalmente mantidos, os ritos democráticos vão se tornando mera fachada.

Ainda que consiga uma virada no segundo turno e conquiste nas urnas um novo mandato, Bolsonaro teria óbvias dificuldades em levar adiante tal empreitada infame.

Uma reforma do STF depende de mudança constitucional, o que demanda apoio de 60% da Câmara dos Deputados e do Senado. Por fortalecido que esteja, o bolsonarismo autoritário não dispõe de tantos votos, nem a precária popularidade do líder parece capaz de mover os parlamentares.

A sociedade brasileira tem dado mostras consistentes de defesa dos valores democráticos, ainda que com críticas compreensíveis ao desempenho dos Poderes. As instituições, do mesmo modo, resistem a investidas do populismo.

O que não se tem, infelizmente, é um presidente que rechace de pronto qualquer proposta capaz de aviltar o regime que garante as liberdades e o respeito à lei.

editoriais@grupofolha.com.br

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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