(Nathalia Lino Do UOL, em São Paulo 12/10/2022)
O arcebispo da Arquidiocese de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, disse nesta quarta-feira (12) que é preciso combater o “dragão do ódio”, da mentira, do desemprego, da fome e da incredulidade. Sem citar nomes de candidatos nas eleições de 2022, destacou a importância do voto como exercício de cidadania.
No ano passado, uma reflexão de Dom Orlando Brandes sobre uso de armas foi interpretada como uma indireta ao presidente Jair Bolsonaro (PL). O arcebispo também já se manifestou sobre temas ligados à saúde, meio ambiente e direitos humanos em outras celebrações.
Nesta quarta-feira, dom Orlando Brandes rezou uma missa no Santuário de Aparecida, no interior de São Paulo, para milhares de fiéis. A celebração, às vésperas do segundo turno das eleições, marca o dia de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil. As declarações do arcebispo ocorrem no dia em que Bolsonaro, candidato à reeleição, visita o santuário.
Ao fim da celebração, o arcebispo de Aparecida concedeu uma entrevista à imprensa. Ao ser questionado sobre a visita de Bolsonaro, Dom Orlando disse que “seja qual for a intenção, vai ser bem recebido”.
“Não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos, então precisamos ser fiéis a nossa identidade católica, mas seja qual for a intenção, (ele) vai ser bem recebido.”
‘Direita injusta’
Em 2019, durante a missa especial para o Dia da Padroeira em Aparecida, o arcebispo Dom Orlando Brandes focou na proteção da Amazônia. Na época, afirmou que o mundo precisa da “vida ecológica, da vida natural e da casa comum”.
As declarações ocorreram em meio às tensões entre Brasil e Vaticano pelo Sínodo dos Bispos dedicado à Amazônia.
“Estamos fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano Segundo”, disse. Na época, o papa vinha sendo alvo de ataques da direita ultranacionalista em diversos países, como Estados Unidos, Brasil e Itália.
O arcebispo também falou em “dragão do tradicionalismo” e disse que a direita é “violenta” e “injusta”.
Brasil perdido em chamas
No ano seguinte, o arcebispo de Aparecida voltou a falar sobre a devastação ambiental, condenando as queimadas na Amazônia e no Pantanal, durante a missa pelo Dia da Padroeira.
Ele pediu à Nossa Senhora que não deixe o Brasil se perder em chamas e atribuiu a responsabilidade pelo desmatamento à ação humana. “Mãe Aparecida, não deixais que nosso Brasil se perca nas chamas.”
‘Pátria amada não é armada’
Em outubro de 2021, durante a missa pelo dia de Nossa Senhora Aparecida, Dom Orlando Brandes afirmou que o Brasil “para ser pátria amada não pode ser pátria armada”. A fala foi interpretada como uma indireta ao presidente Jair Bolsonaro.
“Pátria amada” é o slogan do governo do Bolsonaro, que também defende facilitar o acesso a armas e munição.
Dom Orlando ainda destacou que o país estava “enlutado” pelas milhares de mortes pela covid-19 (na época, eram 601 mil; hoje são 687 mil). O religioso ainda defendeu a vacina e a ciência. “Vacina sim, ciência sim.”
‘Forcinha’ para trazer vacina
Dois meses depois, na Missa do Galo, realizada na véspera de Natal, o arcebispo de Aparecida pediu ao menino Jesus para fazer “uma forcinha” e ajudar a trazer vacina contra covid-19 para crianças brasileiras.
“E, Menino Jesus, faça uma ‘forcinha’ para que a vacina das crianças do Brasil chegue o quanto antes. Um grande presente de Natal: a saúde de nossos filhos, crianças e netos”, disse o arcebispo.
A declaração ocorreu no momento em que o Ministério da Saúde realizava uma consulta pública sobre a vacinação de crianças com idades entre 5 e 11 anos.
No fim do ano passado, a vacinação contra a covid-19 já estava disponível para meninos e meninas em outros países, como Chile e Estados Unidos. A imunização infantil no Brasil começou em janeiro de 2022.
Nomeado em 2016
Dom Orlando Brandes foi nomeado arcebispo da Arquidiocese de Aparecida pelo papa Francisco em novembro de 2016. Antes, foi arcebispo da Arquidiocese de Londrina e bispo da Diocese de Joinville.
Ele nasceu em 13 de abril de 1946, em Urubici (SC). Estudou filosofia na Universidade Católica do Paraná e teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana e na Academia Alfonsiana, em Roma.
Também possui pós-graduação em teologia moral.