Silêncio injustificável

By | 13/10/2022 6:26 am

Para não reforçar farsa, Defesa deve revelar resultado de teste com urnas

 

Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, conversa com Jair Bolsonaro durante cerimônia do Dia do Soldado, em Brasília – Lucio Tavora/Xinhua

Desde sua concepção, a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência em 2018 estava imbuída do desejo do hoje mandatário de misturar seu passado militar com o prestígio das Forças Armadas.

Apesar do histórico salvacionista, que remonta à fundação da República, os militares gozavam de boa imagem, associada ao profissionalismo que emergiu das suas fileiras nos anos da redemocratização.

Capitão reformado de carreira controversa, o então deputado era visto na cúpula da Defesa como mero sindicalista verde-oliva.

O candidato que encarnou o antipetismo e a antipolítica há quatro anos acabou adotado por influentes generais da reserva, que o viam como veículo manobrável. Com a bênção da chefia do Exército, Bolsonaro agregou o grupo e outros tantos da ativa a seu governo.

O resto é uma história conhecida de desgaste institucional, alternando benesses e crises, culminando na implosão de toda a cúpula militar em 2021. As fronteiras a isolar o serviço ativo da retórica golpista bolsonarista ficaram mais turvas.

De lá para cá, um ministro da Defesa, Walter Braga Netto, tornou-se candidato a vice-presidente pelo mesmo PL do chefe, e o atual, o também general da reserva Paulo Sérgio Nogueira, instrumento contra o sistema eleitoral.

Para desagrado de oficiais-generais, Nogueira embarcou no questionamento das urnas, até permitido pelo Tribunal Superior Eleitorial.

Em 2021, a corte aplicou uma regra aprovada dois anos antes e convidou militares a participar de uma comissão de transparência dos pleitos. Criou-se a confusão.

Dúvidas técnicas se multiplicaram e se converteram em munição para Bolsonaro, que arrastou também seu partido para a ofensiva. Presidente do TSE, Alexandre de Moraes buscou contemporizar, cedendo aos fardados e permitindo que fizessem duas checagens adicionais no primeiro turno.

Numa delas, 385 boletins de urnas foram fotografados, tendo seu resultado cotejado com os dados enviados a Brasília. Noutra, até 10% das 640 urnas foram submetidas a testes de integridade e seus sistemas de biometria avaliados.

Ainda não houve manifestação da Defesa acerca do resultado aferido. Como não se trata exatamente de cálculo de física quântica, a demora levou o Tribunal de Contas da União (TCU) a cobrar explicações.

Não por acaso, Bolsonaro, que segue atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa, voltou a questionar o sistema eleitoral e conclamou seus apoiadores a fazerem cercos a pontos de votação, ecoando a tática de Donald Trump que levou à invasão do Capitólio.

Não há novidade no fato de que o presidente é afeito a golpismos. Mas o silêncio dos militares é injustificável, por permitir a leitura de que são coadjuvantes na farsa.

editoriais@grupofolha.com.br

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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