O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva traz a biografia de retirante nordestino e de líder sindical na ditadura, mais as credenciais de seus dois mandatos, e quer abrir horizontes, juntar os cacos dos vários desmanches do atual governo e construir um projeto, não só do PT, mas de transição.
Beirando os 80 anos de idade e sem futuro na política, Lula não tem (ou não deveria ter) planos de reeleição e precisa consolidar um amplo leque de forças políticas, preparar-se para passar o bastão e enfrentar o desafio de identificar lideranças para além do PT e bem diferentes de Dilma Rousseff, José Dirceu e Antônio Palocci.
Bolsonaro, ao contrário, não tem limites nem pretende arejar e moderar o seu exército, que não é o Exército brasileiro. Reeleito, ele vai governar com “novos”, como a pastora Damares Alves, os generais Eduardo Pazuello e Hamilton Mourão, o boiadeiro Ricardo Salles e, claro, o 01, o 02 e o 03. O 04 é outra história, a 05 não conta. Afinal, meninas vestem cor de rosa.
Não há comunismo e comunistas no Brasil, como alardeiam os bolsonaristas, e não faz qualquer sentido o PT, ou parte dele, defender Nicolas Maduro, que gerou caos político, social e econômico e incinerou o futuro da Venezuela. A diferença é que Cuba, Nicarágua e Venezuela não metem medo, mas o projeto da extrema direita, com Donald Trump, Turquia, Hungria e Polônia, é preocupante e, sim, avança.
Logo, Lula é o passado que projeta um futuro melhor. Bolsonaro é um futuro que traz de volta o passado – e não o que há de melhor no passado. Um faz a ponte para uma nova era pós-PT, até porque o que será do PT sem Lula? O outro acena com um projeto reacionário, contra avanços sociais, políticos, de costumes e… a democracia.
Lula e Bolsonaro são dois líderes populistas, carismáticos, que dividem o País ao meio, transformam a eleição numa guerra e deixam suas tropas de prontidão para infernizar a vida do eleito. Uma coisa, porém, parece clara. Lula está no fim da linha e tem de unir e consolidar o centro, enquanto o plano de Bolsonaro é radicalizar, ampliar seus poderes e transformar Executivo, Legislativo e Judiciário em fortalezas para eternizar o bolsonarismo. Um passa, o outro vem para ficar. Qual é passado, qual é futuro e qual é realmente a ameaça?