Evento na Globo coroa eleição de rejeições que marca a disputa que chega a seu fim
Coroando uma corrida presidencial marcada por uma disputa entre rejeições, o embate final do segundo turno desenhou-se como um debate entre monólogos.
O objetivo primário de qualquer encontro do tipo é evitar um escorregão fatal, e nisso tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto o atual, Jair Bolsonaro (PL), foram bem-sucedidos.
Já o alvo secundário, a conquista de indecisos (2% segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, número que pode mudar a equação final), parece ter ficado bastante longe. Os candidatos falaram para si mesmos e com uma estridência colegial, trocando de temas incômodos para outros assuntos
Assim, Lula é mentiroso e ladrão, só para rebater chamando Bolsonaro de mentiroso, ladrão “y otras cositas más”. Houve alguma tentativa de convergência do meio para a frente do evento, com ao menos os xingamentos tentando obedecer a racionalidade do tema exposto.
Nada muito sério, como seria esperado. Aí sobram os momentos em que Lula se perde tentando falar de corrupção, uma constante que ajudou a piorar sua rejeição desde o primeiro turno. O petista claramente segue fora de forma para debates —até o pedágio à esquerda da reabilitação de Dilma como inocente indefensável da crise de 2015-16 o petista pagou.
Já Bolsonaro fez das suas. Puxou para si o tema de defesa da Constituição, logo ele, dono de notório histórico de manifestações golpistas —mesmo nesta quinta (28), Bolsonaro encaixou uma crítica ao Tribunal Superior Eleitoral enquanto falava de ameaças que diz sofrer.
A discussão dos ditos valores, um campo bolsonarista, emergiu no fim do segundo bloco. Lula sacou uma pegadinha, recuperando um discurso de 1992 de Bolsonaro no qual ele defendia o que o petista chamou de “pílula do aborto” para controle de pobreza.
Assim como no debate anterior entre ambos no segundo turno, Bolsonaro voltou a errar ao associar a visita do rival Lula ao Complexo do Alemão com um acordo com os donos do tráfico na região. “Eu não fui visitar traficante não”, disse o presidente.
Lula, previsivelmente, defendeu seu encontro com moradores pobres no Rio. Lula ainda aproveitou e trouxe Roberto Jefferson, que havia surgido lateralmente no primeiro bloco, lembrando a associação entre Bolsonaro com o ex-presidente do PTB, e ligando o episódio em que o ex-deputado atacou a PF com tiros e bombas à política armamentista do presidente.
“Você tem um parceiro de roubalheira. Esse é Roberto Jefferson”, disse Bolsonaro sobre seu aliado que agora, tornado um quase homicida, renega. O nível seguiu contíguo à sarjeta, ainda que temas como canibalismo, pedofilia ou implantação de comunismo não tenham surgido.
No formato, Bolsonaro melhorou aos poucos a postura e parou de andar de um lado para o outro, amparando-se assim como Lula ao púlpito, que serve de anteparo à agressividade do rival.
O destacamento dos candidatos da realidade foi tanto que houve um momento em que o presidente aproveitou uns segundos restantes para posar de pastor e falar de Deus, família e pátria, o velho slogan do fascismo português. Com os 2% de indecisos e 5% de nulos ou branco, que sempre pode mudar de lado, o debate não teve cheiro de definitivo para ninguém.
Ao fim, um empate miserável para o público, no qual ninguém se esborrachou. Sendo assim, ganhou Lula, em termos políticos puros.