Eleições para Legislativo e estados indicam que Lula terá de fazer concessões
Lula volta ao poder com a maioria mais diminuta de um presidente desde a redemocratização. O incumbente foi derrotado pela repulsa de metade do eleitorado, mas não deixou de obter votação expressiva, tendo a seu favor a queda do desemprego e da inflação.
Dado o resultado das urnas, o petista chega ao poder com menos capital eleitoral e popularidade para queimar. Terá, assim, menos tempo para elaborar um programa de aceitação nacional mais ampla, urgência extremada pela situação social e econômica.
O Senado tem um bloco de 35 parlamentares de PL, União Brasil, PP e Republicanos. Um outro grupo mais centrista, de MDB, PSD e PSDB, tem 24 cadeiras. O PT e seus aliados tradicionais à esquerda, 13. Embora a casa seja mais ponderada do que a Câmara, a negociação ali será também penosa.
Filiações partidárias são maleáveis e sujeitas a condições tais como a popularidade presidencial ou a barganha de poder. O ponto de partida, porém, indica que o custo de convencimento será maior, tanto mais porque parte relevante dos eleitos têm compromissos mais estritos com um eleitorado conservador ou reacionário.
No comando dos estados, a esquerda teve também seu pior resultado desde 1998. A relação dos governadores com o Executivo federal, porém, costuma se dar em termos algo mais construtivos, por interesse de cooperação administrativa e de repartição de fundos.
Registre-se que até o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que conquistou o Palácio dos Bandeirantes, declarou que pretende trabalhar em harmonia com o governo petista de Brasília.
É fácil perceber que Lula terá de negociar cargos e planos a fim de montar uma coalizão parlamentar, conquistar eleitores oposicionistas, manter aqueles que aderiram a sua candidatura por rejeição a Bolsonaro e obter apoios sociais que fundamentem esses movimentos políticos.
O presidente eleito tem reafirmado que seu governo irá muito além do PT. Trata-se um bom ponto de partida, mas a tarefa será árdua.