Até a noite de segunda-feira, dia 31, o comando da Polícia Militar temia que o uso da força contra os manifestantes levasse a uma reação contrária, como a que aconteceu em 2013, quando o uso excessivo da força contra estudantes e integrantes do Movimento Passe Livre no centro de São Paulo detonou uma série de manifestações que levaram à suspensão dos aumentos das passagens de ônibus e metrô em São Paulo, além de protestos em todo o País. Mas, depois que o MPF começou a requisitar à Polícia Federal a abertura de inquéritos nos Estados e com a decisão do ministro Alexandre de Moraes de ameaçar com prisão o diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, a situação mudou.
Logo em seguida, foi a vez de o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Sarrubo, determinar ao Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) abrir investigação contra o movimento golpista dos bolsonaristas. “O Gaeco está investigando porque, na visão do Ministério Público, trata-se de uma organização criminosa que está atentando contra o estado democrático de direito no Brasil”, afirmou o procurador-geral.
Ele se reuniu com o governador Rodrigo Garcia (PSDB) e com a cúpula da PM paulista no Palácio dos Bandeirantes, onde foi definida a mudança de estratégia da PM. De imediato, a Tropa de Choque foi convocada para lidar com os manifestantes recalcitrantes. A ordem era chegar nos pontos de bloqueio e ordenar a saída imediata dos manifestantes. Caso se recusassem, os PMs deviam aplicar multa de R$ 100 mil. Se isso não resolvesse, a ordem era chamar o Choque e usar a força e prender os líderes do movimento em flagrante. Com essas medidas, a PM espera resolver a situação até o fim da tarde, apesar da simpatia de muitos de seus homens pelo bolsonarismo, a hierarquia e a disciplina prevaleceriam.
O mesmo ocorre nos quartéis das Forças Armadas. Um silêncio enorme ronda as unidades em todo o País, que são alvo de manifestações de bolsonaristas desesperados com o resultado da eleição. As vivandeiras procuram os granadeiros, mas não conseguem mobilizar em um cabo e um soldado para o golpe. Os generais já discutem como se dará a transição para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Não querem confusão e afirmam que o expediente está normal nos quartéis.
Aguardam a definição de quem serão os novos comandantes das Forças. Se Lula cumprir a intenção de escolher o novo comandante do Exército pelo critério da antiguidade, dois nomes ganham força: os dos generais Júlio Cesar de Arruda, comandante do departamento de Engenharia e Construção, e do general Tomás Miguel Miné Ribeiro de Paiva.
Assim, o silêncio dos generais e a decisão das PMs de usar a força para desobstruir as rodovias enterra de vez as pretensões e ilusões golpistas do bolsonarismo radical. Lula – queiram ou não – tomará posse em 1º de janeiro. O dia a dia e o trabalho das instituições vai levar ao esvaziamento dos ânimos golpistas do que se iludiram com as conversas dos valentões do WhatsApp.