As instituições saem bastante debilitadas destes quatro anos de Bolsonaro
(Hélio Schwartsman, na Folha, Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de “Pensando Bem…”, em 31/10/2022)
“Tò òn légetai pollachôs”, “aquilo que é se diz de várias maneiras”, ensinava Aristóteles 2.300 anos atrás.
Luiz Inácio Lula da Silva sagrou-se presidente derrotando um adversário que disputava a reeleição no cargo, feito inédito no Brasil e não muito frequente no mundo, e que não hesitou em colocar a máquina pública a serviço de sua candidatura de forma superlativa e despudorada.
Jair Messias Bolsonaro ficou apenas 2,1 milhões de votos atrás de Lula (1,8 ponto percentual), a menor diferença num pleito presidencial desde a redemocratização, apesar da gestão desastrosa da pandemia, na qual pereceram quase 700 mil brasileiros, uma mortalidade quatro vezes maior que a taxa média do planeta, e de ter deixado que a inflação saísse de controle — dois fatores que, num mundo normal, fulminariam suas chances de recondução.
Bolsonaro também atacou e ameaçou, ao longo de todo seu mandato, instituições e pessoas encarregados de controlá-lo, um dos elementos centrais do sistema de freios e contrapesos que caracteriza a democracia. Detalhe não trivial: 79% dos eleitores se dizem favoráveis à democracia. É claro que o que cada um considera democracia e o que constitui uma ameaça crível permanecem questões abertas a interpretação.
Todos os períodos acima me parecem descrições razoáveis do que aconteceu no Brasil, cabendo a cada leitor escolher se fica com a versão otimista, a pessimista ou mesmo se tolera bem os ruídos entre elas. De minha parte, destacaria que a derrota do candidato que não incorporava as regras do jogo democrático é uma excelente notícia.