Perto dos 80 anos e depois da prisão, Lula está revigorado pelo novo amor por Janja, mantém sua obsessão pela inclusão social, exercita o controle sobre o PT, usa seu talento para dialogar com aliados e sabe que não tem o direito de errar. Gato escaldado… Já a oposição começou a botar as garras de fora, com caminhoneiros ameaçando o caos e extremistas nas portas dos quartéis, enrolados na nossa bandeira, vociferando contra o Supremo e a favor da ditadura militar.
Se Lula foi cruel com Fernando Henrique, descobre agora o que é realmente uma herança maldita – e sem as mesmas condições e os ventos favoráveis de seus dois primeiros mandatos. Precisa não só de sólida base parlamentar, que ele sabe construir como ninguém, mas também das melhores cabeças no País, ou pelo menos no seu amplo conjunto de forças políticas, para compor o governo.
Pronta para dar o bote, a qualquer pretexto, estará a tropa bolsonarista, que não é de brincadeira. O PT foi implacável com FHC, mas teve em troca uma oposição responsável dos tucanos. Agora vai ver o que é bom para a tosse, com bolsonaristas “indignados”, como define Jair Bolsonaro, usando a internet para mentiras e para mobilizar, dar voz de comando e driblar serviços de inteligência e mídia.
Como antídoto, Lula tem sua imensa capacidade de atrair apoios e maiorias. O País volta à normalidade da política e do diálogo, com o vice Geraldo Alckmin dando entrevista no Planalto e uma saudável balbúrdia para definir instrumentos e cronogramas dos projetos urgentes.
Foi-se o tempo em que o presidente da Câmara, Arthur Lira, voltava do Planalto com tudo pronto e avisava à mídia que tal projeto seria votado (e aprovado…) em horas. Agora, líderes divergem, Alckmin consulta o TCU, os partidos são chamados a ouvir e falar e Lula dará a palavra final sobre como garantir, por exemplo, os R$ 600 do auxílio… ops! do Bolsa Família.