Empregados afirmam reservadamente que patrões pagam gastos com combustível e alimentação
Empresários de diferentes estados bancaram o envio de caminhões para engrossar o protesto antidemocrático em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, onde apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) pedem a intervenção das Forças Armadas contra o resultado das eleições.
Mais de 70 caminhões com a bandeira do Brasil chegaram à capital federal entre domingo (6) e segunda-feira (7). Motoristas relataram à reportagem que 23 deles saíram juntos de Água Boa, no Mato Grosso, numa ação organizada por empresários do município.
Doze caminhões exibiam nessa segunda o nome da Agritex, revendedora de maquinários, peças e equipamentos agrícolas que atua em sete cidades. No domingo, a própria empresa compartilhou pelo Instagram vídeos dos caminhões chegando à região do protesto.
“Chegaram em Brasília os guerreiros das estradas”, dizia a legenda de um deles. “Time Agritex marcando presença em Brasília. Orgulho em fazer parte dessa empresa”, afirmava outro. “O agro mostrando a sua força e importância.”
Outros sete veículos estacionados perto do quartel-general na segunda mostravam a logo do Grupo Comelli, de Rio Verde, em Goiás. Segundo o site, a empresa especializada em processamento de biomassa atua também em Minas Gerais e Mato Grosso.
Em seu perfil no Instagram, o grupo compartilhou uma foto de cinco caminhões lado a lado com a bandeira do Brasil e a localização “quartel-general do Exército”. “Orgulho de ser brasileiro”, dizia a legenda.
Os caminhões que ajudam a inflar o ato de Brasília estão estacionados em fila perto do acampamento montado na região. O trânsito na rua foi interditado pelo Exército. As placas indicam que os veículos saíram de ao menos quatro estados: Mato Grosso, Goiás, Bahia e Santa Catarina.
Os empregados disseram ainda que têm a carteira assinada e que, por isso, não faz diferença para eles estarem trabalhando ou com os caminhões parados. Afirmaram também que os gastos com alimentação, combustível para a viagem e transporte em Brasília serão pagos pelos empregadores. Alguns vieram acompanhados das esposas.
Funcionários de uma das empresas disseram que o patrão autorizou o grupo a ajudar financeiramente outros manifestantes acampados. A Folha identificou duas grandes barracas de alimentação servindo almoço gratuitamente para os caminhoneiros. Em uma delas, nesta segunda, havia churrasco.
A reportagem não conseguiu contato com a Agritex até a publicação deste texto. A empresa foi procurada por telefone na segunda e nesta terça-feira (8), mas ninguém atendeu. A Folha também mandou e-mail, mas não houve resposta. O Grupo Comelli afirmou, por telefone, que não iria se pronunciar.
Nesta terça, procuradores-gerais de Justiça dos Ministérios Públicos de São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santo informaram ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes que os atos antidemocráticos em curso são chefiados e organizados por empresários.
Segundo eles, os integrantes fazem parte de “uma grande organização criminosa com funções predefinidas” e atuação interestadual. Um dos objetivos do Ministério Público é mapear o fluxo financeiro que está bancando os bloqueios nas estradas e rodovias.
Na segunda, o ministro determinou que as polícias informem ao STF em até 48 horas a identificação de todos os veículos e caminhões que participaram tanto dos bloqueios nas rodovias como nas manifestações em frente aos quartéis das Forças Armadas.
Moraes também cobrou a identificação de “líderes, organizadores e/ou financiadores dos referidos atos antidemocráticos”, e informações das “providências realizadas” pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), PF (Polícia Federal), polícias militares e civis.
Especialistas afirmam que protestos que pedem a intervenção militar atacam a própria Constituição e não estão protegidos pelo direito à liberdade de expressão. A punição para cada conduta deve ser avaliada de forma individual.
O Exército pediu ajuda ao governo do Distrito Federal para manter a “segurança” e a “ordem pública” no local. O Comando Militar do Planalto solicitou o envio de ambulâncias, funcionários para a limpeza e o controle de ambulantes, policiais e reboques.
Em resposta a questionamento da Folha, o Exército informou que os manifestantes “se encontram de forma pacífica em frente ao quartel-general” e que o objetivo não é retirá-los do local, mas reforçar a “segurança desses brasileiros”.
“O ofício não trata de remoção dos manifestantes que se encontram de forma pacífica em frente ao Quartel-General do Exército. O objetivo do documento é reforçar, junto com outros órgãos do Distrito Federal, as atividades de controle de trânsito e de barracas, limpeza e segurança desses brasileiros.”
Comentário nosso:
A reportagem apenas confirma o que todo mundo sabe. As manifestações não têm nada de populares. Elas são estimuladas e financiadas por empresas que têm interesses contrariados. Elas eram beneficiadas pelo atual governo e estão preocupadas em ter seus interesses contrariados. Uma delas, conforme a reportagem, “revendedora de maquinários, peças e equipamentos agrícolas que atua em sete cidades”, uma das atividades mais utilizadas para desvios de verbas originárias do orçamento secreto. (LGLM)