A necessária reconstrução do Estado

By | 13/11/2022 1:15 pm

O aparelhamento bolsonarista compromete o desempenho estatal, razão pela qual será necessário recuperar os órgãos contaminados para que sirvam ao País, e não a uma ideologia

 

Dentre as várias tarefas que caberão ao governo que acaba de ser eleito, a reconstrução do Estado está entre as que exigirão trabalho e esforço coletivo. O legado de destruição de Jair Bolsonaro é amplo. Se o presidente falhou em fincar as bases de sua agenda reacionária na sociedade de forma permanente, foi graças à sua inaptidão como liderança, bem como à resiliência de instituições como o Congresso e o Judiciário em conter alguns de seus arroubos. É inegável, porém, que Bolsonaro foi mais bem-sucedido em deturpar e minar por dentro a atuação de várias das estruturas do Executivo – o aparelhamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) é só o exemplo mais recente. No intervalo de um dia, a PRF substituiu um inédito ativismo para fiscalizar a chegada de ônibus transportando eleitores no Nordeste, reduto de Lula da Silva, pela total inoperância em liberar rodovias tomadas por turbas antidemocráticas depois da eleição.

Para chegar a esse resultado, Bolsonaro nem precisou convencer a maioria do funcionalismo público a compactuar com seus devaneios. Bastou colocar aliados no comando dessas instituições ou deixá-las à míngua. Há tantos exemplos que é difícil apontar qual foi o órgão mais afetado, mas o cenário de desmonte é generalizado na Receita Federal, no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e na Fundação Nacional do Índio (Funai), entre muitos outros órgãos.

A partir de 1.º de janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva terá a chance de demonstrar uma nova compreensão sobre o papel do Estado e, em especial, sobre a importância de uma burocracia profissional e apartidária que trabalhe pela sociedade, e não em nome de interesses particulares e privados do governante e de seu governo. É evidente que todo presidente pode e deve influir na máquina pública, mas isso em nada se confunde com a ideia de colocá-la a seu serviço, como fez Bolsonaro.

Se já é relevante para o dia a dia, uma burocracia bem constituída é essencial em momentos de instabilidade política. Dois exemplos disso falam por si: a Itália, conhecida pela alta rotatividade de primeiros-ministros (foram 77 desde o pós-guerra), e a Bélgica, que ficou 652 dias sem governo de coalizão no início deste século devido a impasses políticos, jamais deixaram de funcionar como Estados. Aquilo que é mais pertinente para seus cidadãos, isto é, a execução de políticas públicas de saúde, educação e segurança, foi tocado pelos servidores de carreira. Não houve qualquer espaço para descontinuidade.

Este jornal sempre defendeu um Estado enxuto e eficiente, o que é muito diferente de inexistente ou “mínimo”. É verdade que o País gasta muito e mal, assim como é fato que o aparelhamento e o inchaço da máquina promovidos por administrações petistas contribuíram para a consolidação de uma imagem negativa do serviço público. Há muitas políticas públicas que merecem ser revistas e até extintas, mas essa é uma avaliação impossível de ser feita sem o apoio de um corpo permanente de funcionários munidos de dados, experiência e um histórico de atuação, com rigor técnico e independência. Se havia espaço para melhorias, a saga destrutiva bolsonarista comprometeu, também, parte da memória do Estado que operava bem, como a base de informações do Cadastro Único (CadÚnico) de programas sociais do governo federal, para ficar só num exemplo significativo.

Nem tudo são trevas, e destacar os acertos é oportuno para que eles possam ser replicados em outras áreas. A despeito do boicote à compra de vacinas contra a covid-19 por Bolsonaro, a estrutura estatal soube se organizar para distribuí-las e imunizar a população com a rapidez que a situação exigia. Foi um exemplo de uma força-tarefa que salvou milhares de vidas e que envolveu Estados, municípios e o setor privado, e os brasileiros souberam valorizar e responder a esse trabalho.

É com essa união de forças, que não deixou de se manifestar nas horas mais escuras de nossa história, que o País precisará contar para sair do buraco em que entrou no início de 2019. Que Lula faça jus a essa nova e honrosa oportunidade de liderar esses esforços e servir, verdadeiramente, à sociedade.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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