Presidente eleito anuncia 16 ministros de seu futuro governo; parte da União Brasil diz não se considerar base
Julia Chaib , Renato Machado , Victoria Azevedo , Danielle Brant , Marianna Holanda , João Gabriel , Catia Seabra e Nathalia Garcia, no Estadão, em 29/12/2022)
O presidente eleito e diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou na manhã desta quinta-feira (29) os nomes de 16 novos ministros e, assim, concluiu a equipe do primeiro escalão de governo para começar o seu terceiro mandato no Palácio do Planalto.
Lula oficializou o retorno da deputada federal Marina Silva (Rede-SP) ao Ministério do Meio Ambiente e a acomodação da neoaliada Simone Tebet (MDB-MS) na pasta do Planejamento.
Além disso, na última leva de anúncios de ministros, cedeu 9 ministérios para partidos de centro em busca de governabilidade. MDB e PSD indicaram três ministros cada um para o futuro governo. Já a União Brasil —partido do ex-juiz Sergio Moro— terá dois representantes no ministério.
Esse número pode subir para três, caso o governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), migre para a União Brasil. Ele vai integrar o governo em uma cota do ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e, por enquanto, vai apenas se licenciar do PDT.
O petista concluiu o desenho do seu futuro governo com 37 ministérios. Segundo disse, fará uma reunião dois ou três dias após a posse com ministros. E, depois, pretende se reunir com governadores para fazer levantamento dos três principais projetos de cada estado.
“Quero, a todos os companheiros e companheiras que foram nomeados agora, que vocês façam parte da história política do país, de um momento em que nós tivemos a coragem de assumir o Brasil numa situação extremamente delicada”, disse.
“O Brasil, que foi destruído em muitas das coisas que fizemos, quase tudo na área social foi desmontado, e nós vamos ter que remontar tudo outra vez, mas com muito mais competência, vontade, disposição, porque foi pra isso que me candidatei outra vez à Presidência da República”, completou.
A terceira e última leva dos anúncios de ministros só aconteceu após o fim das negociações com os partidos que farão parte do governo de coalizão.
As tratativas foram encerradas apenas às vésperas do anúncio, com Lula ainda recebendo lideranças partidárias em seu hotel algumas horas antes de seguir para o Centro Cultural Banco do Brasil.
“Temos conversado e, depois de muitos ajustes, nós terminamos de montar o primeiro escalão do governo. Não menos importante, a partir da posse, a gente vai começar a discutir o segundo escalão, os cargos do governo federal em cada estado, para que a gente possa dentro de pouco tempo estar tendo todas as informações para fazer a máquina funcionar”, afirmou
Todos os ministros indicados, os novos e os já conhecidos, estavam presentes no anúncio. Lula fez questão de estar cercado pelas mulheres que vão compor o governo —após as críticas feitas no primeiro anúncio, quando apenas ministros homens foram escalados. De acordo com ele, este é o governo com o maior número de ministras da história, 11.
Além de algumas siglas que compuseram a coligação que o elegeu, Lula cedeu ministérios para o PSD de Gilberto Kassab, para o MDB —para clãs aliados da região Nordeste— e para indicações da União Brasil, resultado da fusão do PSL e do DEM, partido fez oposição ferrenha nos seus dois primeiros mandatos e agora abriga o seu maior desafeto, o ex-juiz Sergio Moro, que o condenou à prisão.
NOMES ANUNCIADOS NESTA QUINTA-FEIRA
- Alexandre Silveira (PSD-MG): Minas e Energia
- Ana Moser: Esportes
- André de Paula (PSD-PE): Pesca
- Carlos Fávaro (PSD-MT): Agricultura
- Carlos Lupi (PDT-RJ): Previdência
- Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ): Turismo
- General Gonçalves Dias: GSI
- Jader Barbalho Filho (MDB-PA): Cidades
- Juscelino Filho (União Brasil-MA): Comunicações
- Marina Silva (Rede-SP): Meio Ambiente
- Paulo Pimenta (PT-RS): Secretaria de Comunicação
- Paulo Teixeira (PT-SP): Desenvolvimento Agrário
- Renan Filho (MDB-AL): Transportes
- Simone Tebet (MDB-MS): Planejamento
- Sônia Guajajara (PSOL-SP): Povos Indígenas
- Waldez Góes (PDT-AP): Integração Nacional
Além de Simone Tebet, que emedebistas buscaram deixar claro que pertence à cota pessoal de Lula, o petista anunciou nesta quinta-feira (29) os nomes de Renan Filho para o Ministério dos Transportes e Jader Barbalho Filho para Cidades.
“A próxima ministra é uma companheira que teve papel extremamente importante na campanha foi adversária nossa, aliada extraordinária no segundo turno”, disse Lula, em referência à nova aliada, Simone Tebet.
Já o futuro titular de Cidades foi descrito pelo petista como “companheiro, filho de companheiro, irmão de um companheiro”. Ele é filho do ex-senador Jader Barbalho e irmão do governador do Pará, Helder Barbalho.
O PSD terá três ministérios: o senador Alexandre Silveira (PSD-MG) ficará com a pasta das Minas e Energia; Carlos Fávaro (PSD-MT) será ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o deputado André de Paula (PSD-PE) ficará com a Pesca.
Integrantes da União Brasil também indicaram nomes para três ministérios. Lula anunciou a deputada Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ), como ministra do Turismo e o deputado Juscelino Filho (União Brasil-MA) como chefe das Comunicações.
A indicação de Juscelino é colocada na conta do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que também apontou o governador do Amapá Waldez Góes (PDT) para a Integração Nacional. Alcolumbre também consultou os consórcios de governadores do Nordeste e da Amazônia para realizar a indicação.
Góes se licenciará do PDT enquanto for ministro, conforme disse o próprio Lula em discurso. O governador comunicou a Lupi essa situação, mas disse que continuará filiado. Aliados de Alcolumbre afirmam que o senador tentará convencê-lo a ir para a União Brasil no ano que vem.
Apesar das indicações, o presidente da União Brasil, Luciano Bivar (PE), diz que a legenda será independente ao governo, já que tem em seus quadros nomes de oposição a Lula. Outra parte do partido, porém, se considera base de apoio de Lula.
Além disso, Bivar tem reclamado internamente que as indicações não partiram da cúpula da União Brasil, mas sim de filiados. O partido viveu um racha interno e o nome de Elmar Nascimento, que estava cotado para a Integração Nacional foi rifado por resistência no PT e também de correligionários.
Os futuros líderes do governo, também anunciados nesta quinta-feira, disseram esperar que, apesar das declarações de independência, o partido esteja na base do governo.
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que liderará o Congresso, disse não querer acreditar que a legenda, que tem três dos maiores ministérios, fique independente.
“Estou confiante de que, em fevereiro, vamos ter as primeiras votações no Congresso, e o União Brasil votará conosco. Não vou me meter nas questões internas de outros partidos. Teve um compromisso firmado em nome do União Brasil de apoio ao governo e nós vamos esperar e contar com isso a partir de fevereiro”, afirmou Randolfe.
Já José Guimarães (PT-CE), futuro líder do governo na Câmara, afirmou que não descarta o apoio da União Brasil ao novo governo no Congresso. “É diálogo e construção. Quando nós começamos a PEC [da Gastança], ninguém imaginava que a União Brasil ia votar quase 100% na PEC”.
Na votação do primeiro turno do plenário da Câmara, 12 dos mais de 50 deputados do União Brasil foram contrários. A indicação da liderança do partido foi pela aprovação da proposta.
Lula também anunciou o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, como ministro da Previdência, outro nome que já ocupou pasta em governos anteriores do PT. Ele se reuniu com Lula na manhã desta quinta-feira (29), no hotel em que o petista está hospedado em Brasília, algumas horas antes do anúncio.
Outros dois petistas também foram anunciados para o terceiro governo de Lula. Os deputados federais Paulo Teixeira (PT-SP) e Paulo Pimenta (PT-RS) serão respectivamente ministros do Desenvolvimento Agrário e da Secretaria Especial de Comunicação.
Lula também anunciou a ex-jogadora de vôlei Ana Moser como ministra dos Esportes, o general Gonçalves Dias, conhecido como GDias, como chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e a deputada federal eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP) como ministra dos Povos Indígenas.
Dessa forma, Lula vai começar seu governo com ministros de oito partidos, além do próprio PT. Terão representantes na Esplanada dos Ministérios o PSB, do vice-presidente Geraldo Alckmin, Rede, PC do B, PSOL, PDT, MDB, PSD e a União Brasil.
Por outro lado, ficaram de fora do governo partidos que integraram a coligação que elegeu Lula. Não terão ministérios Solidariedade, Agir, Avante e Pros. O PV integra uma federação com o PT e PC do B, mas esperava uma pasta exclusiva para a sigla, considerando que os comunistas obtiveram.