Um tapa na cara dos que ignoram a democracia!

By | 03/01/2023 7:00 am

(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, no Notícias da Manhã, em 03/01/2023)

Nas principais democracias do mundo,  onde reina o regime presidencialista, um dos gestos que sinalizam o predomínio da democracia e o respeito pela alternância do poder é a entrega da faixa presidencial do presidente que se despede para o presidente que assume o poder. É uma forma de mostrar respeito pela decisão popular.

Mesmo antes da derrota, Bolsonaro já ameaçava não entregar a faixa a Lula se não fossem atendidas as suas exigências de urnas com voto impresso. Exigência mudada para respeito às regras eleitorais, como se em algum momento, petistas ou outros adversários tivessem qualquer intenção de usar de fraude eleitoral para assumir o poder.

Na realidade as exigências de Bolsonaro eram uma forma de ameaçar com a deflagração de um processo de intervenção militar no caso de ser derrotado em sua tentativa de reeleição. Era a forma de tentar ameaçar o eleitorado brasileiro para que votasse contra a sua vontade soberana.

Muitas foram as sinalizações que Bolsonaro fez ao longo dos últimos meses de que não se conformaria com a derrota. E sustentou este espírito de inconformismo com o resultado das urnas, até a sua fuga de última hora, para não passar a faixa presidencial para o presidente legitimamente eleito pelo povo brasileiro.

Não é a primeira vez que nas últimas passagens de governo nos últimos tempos alguém se nega a passar a faixa presidencial. João Figueiredo foi um destes nos últimos quarenta anos. Na realidade era tudo gente desacostumada com a democracia.

A equipe que preparava a posse de Lula, diante das ameaças persistentes de Bolsonaro de não passar a faixa para seu sucessor e de declarações do ainda vice-presidente Hamilton Mourão de também não o fazer, a menos que Bolsonaro renunciasse ao mandato, começou a pensar em alternativas para o gesto simbólico que as principais democracias republicanas costumam praticar no mundo todo.

Algumas alternativas foram examinadas. Os presidentes da Câmara e do  Senado, deputado Artur Lira e senador Rodrigo Pacheco, se propuseram a entregar a faixa. Houve quem aventasse o nome da ex-presidente Dilma, para quem Lula passara a faixa ao fim do seu segundo governo para passar a faixa àquele de quem na sua época recebera a sua. Mas, segundo se comenta, a atual primeira-dama, Rosângela Janja da Silva, coordenadora da festa de posse, defendia a hipótese de uma representação da população fazer a entrega da faixa a Lula.

E essa foi a alternativa vencedora. Um grupo de pessoas composto de representantes dos índios, dos negros, dos deficientes, dos idosos das crianças, de outras minorias e da população em geral passou a faixa de mão em mão até que um deles, uma catadora de lixo, colocou a faixa nos ombros de Lula.

O gesto coletivo foi um verdadeiro tapa com a mão enluvada da população brasileira no mal-educado ex-presidente Bolsonaro, que dava nos estertores do seu desgoverno uma demonstração cabal de que não estava preparado para a democracia.

O povo brasileiro, que por sua maioria havia elegido Lula, por uma representação de suas diversas vertentes populacionais lhe entregava a faixa. E para os “puxa-sacos” que se manifestaram em bloqueios rodoviários e em portas de quartéis contra o veredito das urnas e o processo eleitoral fora de quaisquer dúvidas, restou a resposta dada pelo comportamento sereno e democrático das Forças Armadas e pela subida tranquila de Lula na rampa do Planalto.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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