Aliados de Bolsonaro se descolam de Torres e silenciam sobre decreto golpista

By | 13/01/2023 2:16 pm

Ex-integrantes do governo e parlamentares veem aumento de desgaste com demora do ex-ministro em se entregar

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) procuraram se distanciar do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e afirmaram não ter conhecimento da minuta de decreto golpista revelada nesta quinta-feira (12) pela Folha. Outros preferiram silenciar sobre o assunto.

A Polícia Federal encontrou na casa do ex-titular da Justiça uma proposta para Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-presidente Jair Bolsonaro – Evaristo Sá/AFP

Em um primeiro momento, ex-integrantes do governo se disseram surpreendidos e, reservadamente, chegaram a aventar a teoria de um documento plantado para prejudicar Bolsonaro. A hipótese caiu por terra quando o próprio Torres admitiu nas redes sociais a existência minuta.

Ex-palacianos também afirmaram nunca terem tido ciência de discussões sobre o assunto ou da existência de qualquer documento elaborado para reverter o resultado das eleições. Bolsonaro nunca reconheceu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O antigo entorno de Bolsonaro e parlamentares aliados afirmam reservadamente que o ex-ministro deveria se entregar logo à PF. A avaliação é de que quanto mais Torres demorar, maior será o desgaste para o grupo político do ex-presidente.

A situação de Torres coloca ainda mais pressão sobre Bolsonaro, que já sofreu o desgaste da associação com os vândalos que depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília. O ex-presidente também está nos Estados Unidos. Ele viajou para o exterior antes do término de seu mandato e ignorou o rito democrático de passar a faixa presidencial a seu sucessor.

Procurados pela Folha, outros parlamentares bolsonaristas disseram que a defesa de Torres já se manifestou.

Há um mandado de prisão contra o ex-ministro de Bolsonaro, expedido por Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O magistrado fala em “uma possível organização criminosa que tem por um de seus fins desestabilizar as instituições republicanas”.

“No caso de Anderson Torres e Fabio Augusto Vieira [ex-comandante da PM do DF, que foi preso], o dever legal decorre do exercício do cargo de Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e de Comandante-Geral da Polícia Militar do Distrito Federal, e a sua omissão ficou amplamente comprovada pela previsibilidade da conduta dos grupos criminosos e pela falta de segurança que possibilitou a invasão dos prédios públicos”, afirmou o ministro.

A reportagem procurou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filhos do ex-presidente, mas nenhum deles se manifestou. Também entrou em contato com a assessoria do ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS), senador eleito, mas não houve retorno.

Folha procurou ainda bolsonaristas como os deputados federais Carla Zambelli (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF) e o líder do PL na Câmara, Altineu Cortês (PL-RJ). Não houve resposta.

Ex-líder do governo Bolsonaro, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) procurou se distanciar do assunto. “Não tenho conhecimento. Nunca ouvi falar”, afirmou.

Torres disse nas redes sociais que o documento foi “vazado fora de contexto”. O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de segurança de Ibaneis Rocha (MDB-DF) afirmou que havia uma pilha de papéis em sua casa para descarte.

“No cargo de ministro da Justiça, nos deparamos com audiências, sugestões e propostas dos mais diversos tipos. Cabe a quem ocupa tal posição o discernimento de entender o que efetivamente contribui para o Brasil”, escreveu no Twitter.

“Havia em minha casa uma pilha de documentos para descarte, onde muito provavelmente o material descrito na reportagem foi encontrado. Tudo seria levado para ser triturado oportunamente no MJSP [Ministério de Justiça e Segurança Pública].”

No Senado, líderes já dão como certa a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a invasão ao Congresso, Palácio do Planalto e STF no domingo.

O requerimento apresentado pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) já recebeu o apoio de 47 senadores —dos quais 34 ainda terão mandato na próxima legislatura, a partir do dia 1º de fevereiro.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou na terça-feira (10) que considera a CPI “muito pertinente”. Pacheco disse a pessoas próximas que o Parlamento precisa dar uma resposta à sociedade, e que vai apoiar a CPI se for reeleito para o comando do Senado.

Principal adversário de Pacheco na disputa pela presidência da Casa, o senador eleito Rogério Marinho (PL-RN), já sinalizou a pessoas próximas que também daria andamento à investigação, como manda o regimento interno.

A minuta de decreto golpista foi encontrada no armário da casa de Torres durante busca e apreensão realizada na última terça. A PF vai investigar as circunstâncias da elaboração da proposta.

O objetivo, segundo o texto, era reverter o resultado da eleição. Tal medida seria inconstitucional.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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