O dever de casa do Congresso

By | 13/01/2023 8:41 am

Câmara e Senado devem punir seus membros que apoiaram, consentiram ou colaboraram com os atos do dia 8. Não cabe tolerância com quem emporcalha a história do Congresso

 

(OPINIÃO DO ESTADÃO, 13/01/2023)

 

Imagem ex-libris

A cúpula do Congresso, como não poderia deixar de ser, alinhou-se aos demais Poderes, aos entes federativos e à sociedade brasileira na defesa da Constituição e da democracia neste momento conturbado do País. Com firmeza, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, condenaram a barbárie impetrada por bolsonaristas no dia 8 de janeiro.

No próprio domingo, Arthur Lira afirmou que a Câmara agiria “com rigor” para garantir “a liberdade, a democracia e o respeito à Constituição”. O presidente da Câmara defendeu que aqueles que “promoveram e acobertaram” o maior atentado contra a democracia brasileira desde o fim da ditadura militar sejam “identificados e punidos na forma da lei”. Em seguida, Rodrigo Pacheco repudiou “veementemente” o que chamou de “atos antidemocráticos” e exigiu que os responsáveis “sofram o rigor da lei com urgência”.

É o que este jornal espera. Um ataque tão desavergonhado contra as instituições democráticas não pode ficar impune. A lei deve alcançar todos os seus responsáveis diretos e indiretos. O melhor mecanismo de defesa da democracia é a aplicação da lei e de suas penas, observado o devido processo legal, sem fazer concessões com quem se utiliza, para seus objetivos políticos, da violência ou da ameaça.

Imprescindível, o alinhamento dos presidentes da Câmara e do Senado na defesa da democracia deve ir, portanto, além de discursos. É necessário assegurar a pronta e adequada responsabilização de todos os parlamentares que, direta ou indiretamente, contribuíram para os atos de 8 de janeiro. Não cabe atenuar a participação – ou conivência – com tão grave atentado às instituições democráticas.

Houve deputado que teve a ousadia de justificar a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes. Segundo Ricardo Barros (PP-PR), por exemplo, os atos de domingo foram causados porque o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, não conseguiu convencer a sociedade de que a urna eletrônica era confiável. “Se ele tivesse convencido, não teríamos essas pessoas, que são brasileiros de cara limpa”, disse o deputado à CNN Brasil, referindo-se aos vândalos que depredaram o Palácio do Planalto, o Supremo e o Congresso.

Em tempos tão estranhos, é preciso dizer o óbvio: todos os parlamentares que apoiaram, antes ou depois, os atos de domingo quebraram o decoro parlamentar. Não respeitaram a Constituição. Não honraram o Estado Democrático de Direito. Já não dispõem de condições éticas para continuarem ocupando suas cadeiras.

As lideranças do Congresso precisam mobilizar-se, portanto, para prover a devida responsabilização no âmbito do Legislativo de seus pares antidemocráticos – sem prejuízo, por óbvio, da responsabilização jurídico-penal, a ser feita pelo Judiciário. No caso, o Legislativo dispõe de todos os meios para identificar e responsabilizar os seus membros que incentivaram, apoiaram e colaboraram com o movimento golpista. Não cabe tolerância com quem agride a democracia e emporcalha a história do Congresso.

É mais que hora de dar plena efetividade aos Conselhos de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara e do Senado. Não são – não podem ser – órgãos de fachada, pois suas muitas omissões ao longo das décadas vêm cobrando alto preço do País e do próprio Congresso. O caso mais eloquente é do próprio Jair Bolsonaro, cujo comportamento como deputado federal infringiu por diversas vezes o decoro parlamentar. Mas Bolsonaro não foi o único parlamentar que, em vez de receber a devida punição, foi agraciado por seus pares com a impunidade.

Não se pode transigir com os fundamentos da República. Fazendo jus às palavras dos presidentes da Câmara e do Senado em defesa da democracia, o Congresso tem agora uma excelente oportunidade de fortalecer sua autoridade perante a sociedade, mostrando que não compactua com ataques de seus membros ao regime democrático e às instituições republicanas. Discursos são importantes, mas pouco valem se não vêm acompanhados das correspondentes ações.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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