Novo Congresso assume nesta quarta mais conservador e empoderado; veja o perfil dos parlamentares

By | 01/02/2023 8:00 am

O resultado das eleições que definirão o comando do Congresso, amanhã, quarta-feira, 1.º, é decisivo para o Palácio do Planalto montar seu jogo político. Mesmo sem as verbas do orçamento secreto, os presidentes da Câmara e do Senado mantêm uma força e protagonismo que exigirão esforço redobrado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para consolidar sua base aliada e garantir a governabilidade. O cenário forçará Lula a fazer uma negociação no varejo com deputados e senadores a partir desta semana. Arthur Lira (PP-AL) já é dado como reeleito na chefia da Câmara. No Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ainda é o favorito, mas a candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) tem crescido. O novo Parlamento tem perfil conservador e protagonismo do Centrão reforçado. O grupo político comandado por PP e PL tem 235 votos na Câmara. Já a esquerda apenas 124.

Lula conseguiu recuperar parte do poder sobre os recursos federais com a decisão do Supremo Tribunal Federal de derrubar o orçamento secreto, esquema de compra de votos criado no governo de Jair Bolsonaro. O duto de verbas revelado pelo Estadão praticamente terceirizava a função do Executivo no planejamento da distribuição dos recursos de investimentos. A correlação de forças no Congresso, entretanto, permanece a mesma dos últimos quatro anos, com Arthur Lira à frente de uma rede robusta de aliados. Agora, o Planalto aposta em uma negociação com os parlamentares um a um para evitar uma tutela do maior líder do Centrão, o bloco dos partidos fisiológicos.

Preparativos para posse e  eleição do novo Presidente da Câmara,  a ser realizado no próximo dia 1º de fevereiro,  no Congresso Nacional
Preparativos para posse e eleição do novo Presidente da Câmara, a ser realizado no próximo dia 1º de fevereiro, no Congresso Nacional Foto: Wilton Junior / Estadão

O governo não terá apoio irrestrito dos partidos que não estiveram com o PT na eleição do ano passado. O direcionamento de recursos para as bases eleitorais e a ocupação de cargos na administração pública são os dois maiores instrumentos de negociação política para a formação da coalizão.

As emendas parlamentares seguem capturando boa parte do caixa da União. Os números do Orçamento explicam esse cenário. Tanto o governo como o Legislativo têm mais dinheiro nas mãos, mas desta vez o poder está mais equilibrado. Com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, aprovada antes da posse de Lula, o governo federal terá R$ 71 bilhões para investir em obras públicas e programas estratégicos neste ano. Desse total, 29% estão nas mãos dos parlamentares, responsáveis por indicar o destino final do dinheiro. Até o ano passado, o governo tinha um valor menor, de aproximadamente R$ 40 bilhões, com o Congresso dominando 40% do total.

Cabines de votação preparadas do salão ao lado do plenário da Câmara dos Deputados
Cabines de votação preparadas do salão ao lado do plenário da Câmara dos Deputados Foto: Wilton Junior / Estadão

Internamente, as emendas parlamentares também ficaram mais pulverizadas, diminuindo o domínio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que controlava o orçamento secreto e escolhia quem ficava com a bolada, conforme os acordos internos e a adesão à pauta do governo. Para este ano, as emendas individuais, aquelas indicadas por cada deputado e senador, aumentaram, com direito a R$ 6,7 bilhões repassados via emenda PIX, uma modalidade sem transparência nem controle dos órgãos de fiscalização. As emendas de comissão também cresceram, chegando a R$ 7,6 bilhões após terem sido zeradas no governo anterior. Com o retorno das comissões funcionando e votando projetos, após um período de ressaca na última legislatura, o poder fica mais dividido. Ainda assim, os presidentes das Casas seguem controlando a pauta de votações.

Câmara elege a nova presidência da Casa no dia 1º de fevereiro, Arthur Lira disputa a reeleição para o posto e é o favorito
Câmara elege a nova presidência da Casa no dia 1º de fevereiro, Arthur Lira disputa a reeleição para o posto e é o favorito Foto: Wilton Junior / Estadão

Os parlamentares eleitos nas urnas são responsáveis por votar leis que mexem diretamente na vida dos brasileiros. Para o bem e para o mal. Em 2010, por exemplo, o Congresso aprovou uma lei que determinava o fim dos lixões em quatro anos. O objetivo era acabar com a destinação inadequada dos resíduos sólidos, situação que afeta diretamente o meio ambiente e a saúde das pessoas. O município que não cumprisse o prazo e deixasse de dar um destino correto para o lixo ficaria sem recursos federais. O prazo foi sendo adiado, e no ano de 2010, os parlamentares aprovaram o projeto adiando o fim dos lixões para 2024 em municípios com população inferior a 50 mil habitantes, o que representa 80% das cidades brasileiras.

Homens brancos

O perfil dos deputados e senadores que votarão cada lei e cada mudança na Constituição a partir desta semana não foge à regra das últimas legislaturas. Enquanto a maioria da população é formada por mulheres, negros e a renda média é próxima a um salário mínimo, na Câmara 83% dos deputados são homens, 72% são brancos e um terço (33%) tem um patrimônio acima de R$ 1,7 milhão. A taxa de reeleição foi de 56,5%, ou seja, a maioria dos parlamentares ocupou o mandato na última Legislatura, durante o governo Bolsonaro. Além disso, as trocas de cadeiras escondem uma renovação efetiva de apenas 8%. Tirando 39 deputados e um senador que assumirão o mandato nesta semana, todo o restante é político, já ocupou cargo eletivo, cargo de primeiro escalão ou é herdeiro de clãs políticas.

Na primeira reunião que teve com ministros do governo, no dia 6 de janeiro, Lula já deu o tom para o primeiro escalão sobre a relação com o Legislativo. “Nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso, e é por isso que cada ministro precisa ter a paciência e a grandeza de atender bem cada deputado, cada deputada, cada senador ou cada senadora que o buscar”, disse Lula. Dos 37 ministros de Lula, 14 são deputados ou senadores. Um deles, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), foi escolhido para a Secretaria de Relações Institucionais, e será responsável por fazer o diálogo direto com os parlamentares e os senadores. Outro ministério chave nesse processo é a Casa Civil, comandada pelo ex-governador da Bahia Rui Costa (PT), que faz o pente-fino em todos os cargos federais e avalia as indicações políticas para esses postos.

Forças políticas

De perfil mais conservador, o novo Congresso é formado por sete grandes forças que controlam a pauta e influenciam diretamente na relação dos deputados e senadores com o governo, incluindo governistas e a oposição. Despontam o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que deve ser reeleito para mais dois anos no comando da Casa, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que se aproximou da base de Lula para também ser reconduzido.

Lideram a oposição o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que controla as bancadas do partido nas duas casas e tenta eleger o senador Rogério Marinho (PL-RN) como presidente do Congresso, e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que volta ao Senado após chefiar a Casa Civil do governo Bolsonaro. Juntas as siglas do Centrão conseguiram eleger 235 deputados. Na disputa para o Senado, dos 27 novos integrantes, 13 se alinham com posições da gestão que deixou o Planalto. Bolsonaro conseguiu eleger nomes como seu vice Hamilton Mourão e a ex-ministra Damares Alves. Entre os novos senadores está também o ex-juiz Sérgio Moro.

Na base de apoio, está a bancada do PT, outra força do Congresso e vinculada diretamente à figura do presidente da República. Completam a lista o deputado Elmar Nascimento (União-BA) e o senador Davi Alcolumbre (União-AP). No União Brasil – o terceiro maior partido do Legislativo – e hoje são os aliados mais fortes de Lira e Pacheco, respectivamente, coordenando suas bancadas e interferindo na escolha de cargos federais em troca de votos. O partido é um pêndulo na atual composição de forças do parlamento.

Disputa ferrenha

No day after da eleição dos presidentes e dos integrantes das mesas diretoras da Câmara e do Senado, as principais forças começarão uma disputa ferrenha pelo controle das comissões do Congresso. Esses colegiados voltarão a ter protagonismo, após um período de ressaca nos últimos quatro anos. As comissões não funcionaram durante o pico da pandemia de covid-19 e foram reabertas sem votar projetos relevantes. Além disso, tiveram as emendas no Orçamento reduzidas a zero. Agora, as comissões voltaram a ter dinheiro e pauta na agenda, o que aumenta a cobiça pelos cargos nesses grupos.

Os colegiados mais disputados são a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, a CCJ do Senado e a Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso. As duas primeiras são responsáveis por chancelar as principais propostas de lei e de mudanças na Constituição antes do plenário em cada uma das casas. A CMO, por sua vez, formada por deputados e senadores, é por onde passam o Orçamento da União proposto pelo governo e as emendas parlamentares, principal instrumento político dos congressistas para fidelizar suas bases eleitorais nos Estados e municípios.

As comissões de Direitos Humanos e Relações Exteriores das duas casas também entram na lista de prioridades, ao serem ocupadas por congressistas que militam nessas áreas e buscam ter protagonismo ao comandar os colegiados. Há ainda a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, com o poder de conceder empréstimos para os Estados e avaliar a pauta econômica, e a Comissão de Desenvolvimento Regional da Casa, que interfere em obras e projetos de interesse direto dos parlamentares nos Estados e municípios. A eleição das presidências da Câmara e do Senado, nesta quarta, não encerrará a negociação pelas comissões, que devem seguir em disputa até março, mês previsto para serem instaladas e começar os trabalhos.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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