Formação geológica da região indica possibilidade de metais valiosos e vira aposta da mineração ilegal
O território yanomami, dividido entre o noroeste de Roraima e o norte do Amazonas, é um lugar de superlativos. Com uma área de 9,6 milhões de hectares (equivalente ao estado de Santa Catarina), abriga mais de 28 mil indígenas, que estão distribuídos por 371 comunidades.
Além disso, é uma fonte potencial de minérios valiosos para a indústria, o que leva a ameaça do garimpo para a maior terra indígena (TI) do Brasil. Em “geologês”, a área onde está o território yanomami é chamada de cinturão de rochas verdes.
“São terrenos mais antigos, em que costumam ocorrer metais como ouro, cobre, zinco, níquel, platina e uma série de outros metais importantes, que são usados na indústria eletroeletrônica e da transição energética”, explica Marcelo Almeida, chefe do departamento de recursos minerais do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia.
Se, na teoria, a região pode abrigar essa diversidade mineral, na prática, faltam, porém, estudos que descrevam a geologia da Amazônia com mais precisão, diz Almeida.
Ainda assim, com a valorização do ouro que aconteceu nos últimos anos, essa aposta ilegal e quase no escuro pode acabar valendo a pena. O metal está tão bem cotado no mercado que, mesmo que seja uma busca de tentativa e erro, quando o ouro é encontrado, ele acaba pagando as operações prévias frustradas.
“Para o garimpeiro, o retorno é muito mais imediato com o ouro. Com essa nova corrida [do ouro], está compensando o risco que eles correm”, diz.
Além do ouro, o território yanomami também é visado para extração de cassiterita, principalmente nas jazidas na Serra dos Surucucus, no norte de Roraima. Deste minério é extraído o estanho, usado na fabricação de folhas de flandres, que são largamente empregadas na indústria —da produção de latas até o acabamento de carros.
O pesquisador aponta, no entanto, que o valor agregado da cassiterita é mais baixo do que o do ouro, já que existe uma concorrência muito grande de outros agentes do mercado que atuam em locais legalizados e com acesso mais fácil.
Os dados são da plataforma Amazônia Minada, do portal Infoamazonia, que analisa os dados da ANM e mapeia os processos minerários que se sobrepõem ou estão contíguos a terras indígenas e unidades de conservação no bioma.
A mineração nessas áreas protegidas é proibida por lei. Assim, esses processos são abertos por quem tem esperança de que a legislação mude. Com isso, Almeida explica, poderiam ficar entre os primeiros a iniciar as pesquisas de lavra garimpeira nesses lugares.
De acordo com a ANM, existem mais de 7.000 processos minerários com autorização para lavra na Amazônia Legal, o que corresponde a uma área de cerca de 4 milhões de hectares.
“Desses processos, a maior parte são para extração de agregados para construção civil e ouro. Existe quantidade expressiva também de concessões para estanho e calcário”, afirma a agência em nota.