Fantástico mostra como fuzis foram parar legalmente nas mãos de uma das maiores quadrilhas de tráfico de drogas do Brasil; e como uma rede fraudulenta armou gente despreparada.
(Fantástico, em
Tráfico internacional de cocaína tinha integrantes com licença de CAC
De um lado, a investigação que desarticulou uma das maiores quadrilhas de tráfico de drogas do Brasil, que pretendia enviar 350 kg de cocaína de navio para a Europa. De outro, em Pernambuco, o caso do policial civil, dono do maior clube de tiro do Brasil, que foi acusado de fraudar documentos para vender armas e conseguir porte ilegal para a maioria dos seus 8 mil associados.
O que essas histórias têm em comum? O acesso facilitado a licenças para caçadores, atiradores desportivos e colecionadores de armas, os chamados CACs. O Fantástico mostra como fuzis foram parar legalmente nas mãos de traficantes; e como uma rede fraudulenta armou gente despreparada – assista à íntegra da reportagem no vídeo acima.
Conhecido como “Major Carvalho”, o ex-PM de Mato Grosso do Sul Sérgio Roberto de Cavalho está preso na Hungria desde o ano passado. Segundo a Polícia Federal, até ser detido, ele tinha enviado para a Europa 50 toneladas de cocaína ao longo de cinco anos.
Além de aviões, o esquema do Pablo Escobar brasileiro também usava navios. Em um telefonema monitorado pelos investigadores, Major Carvalho fala sobre o risco de a carga de cocaína ser descoberta. Em outubro de 2021, a Polícia Civil do Espírito Santo apreendeu em Cachoeiro do Itapemirim, no sul do estado, um caminhão que transportava 350 kg de cocaína.
A Polícia Federal assumiu a investigação e descobriu que o plano da quadrilha era esconder a droga em placas de granito. A carga seria colocada em contêineres e seguiria do Porto de Guarapari para o Porto de Le Havre, na França.
“Chamou a atenção uma nota fiscal que nós encontramos da aquisição de um fuzil calibre 762. Essa arma foi comprada por um dos integrantes do grupo, o que tinha contato direto com o Major Carvalho, que era a liderança do grupo no Brasil”, conta Victor dos Santos Baptista, chefe da Delegacia de Repressão a Drogas da PF-ES.
Quem tinha contato direto com o Major Carvalho era Rodrigo Rodrigues Boeira, o Xirú, homem do telefonema. Ele e mais quatro traficantes foram presos em fevereiro na Operação Chapa Branca: a Polícia Federal descobriu 18 armas com os acusados, 17 delas compradas legalmente, e seis, inclusive um fuzil, estavam com Xirú.
“Não estamos falando de pessoas que simplesmente frequentavam clubes de tiro. Estamos falando de 17 armas apreendidas de traficantes internacionais de droga e que tinham armas legais: fuzis, pistolas, revólveres, armas de todo tipo. Foram quase mil munições apreendidas em posse desses traficantes, munições que foram adquiridas legalmente, porque as pessoas tinham registros de CACs”, diz Victor dos Santos Baptista.
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Houve um aumento do número de CACs a partir da flexibilização das regras para compra de armas e munições – inclusive de uso restrito – no governo Bolsonaro. Até 1º de julho de 2022, o número de CACs cresceu 474% no Brasil, e os crimes cometidos com arma de fogo por uma minoria de colecionador, atiradores e caçadores têm sido frequentes. Além disso, dados obtidos pela TV Globo, via Lei de Acesso à Informação, mostram que o envolvimento de CACs nas ocorrências registradas de acordo com a Lei Maria da Penha saltou de quatro em 2019 para 48 no ano passado.
Em menos de três anos, as investigações apontaram que Diego de Almeida Soares ficou milionário. Em 2018, a Polícia Federal disse que ele tinha R$ 390 mil em bens e contas bancárias, dinheiro obtido com a venda de armas e com o clube de tiros. Em 2021, R$ 60 milhões.
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Segundo a PF, Diego tinha o maior clube de tiros do Brasil, com 8 mil associados, e oferecia um pacote completo: assistência jurídica, armas e treinamento. A loja de Diego tem também oficina de armas, cujo principal armeiro era Luís Guilherme da Silva Vieira. Ele não tem autorização da PF para exercer a profissão, e as investigações descobriram que, nos documentos expedidos pelo clube, o esquema usava dados de outro armeiro.
Diego de Almeida Soares ficou quatro meses preso e foi solto em fevereiro. Ele é réu num processo por falsidade ideológica, uso de documento falso e comércio ilegal de armas de fogo. Assista à reportagem completa no vídeo acima.
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