Bolsonaro depõe

By | 07/04/2023 8:08 am

Caso das joias sauditas expõe versões tortuosas para ato que seria corriqueiro

 

(O que a Folha pensa, em editorial de 06/04/2023)

 

Jair Bolsonaro (PL) deixa a sede da Polícia Federal após prestar depoimento, em Brasília – Sergio Lima/AFP

Jair Bolsonaro (PL) anda mesmo com o prestígio em baixa. Apenas um homem com camisa do Brasil apareceu na sede da Polícia Federal em Brasília para apoiá-lo na quarta (5), quando depôs, como investigado, sobre as joias recebidas de autoridades da Arábia Saudita.

No mesmo dia, mas em São Paulo, também prestou depoimento Mauro Cid, tenente-coronel do Exército que foi ajudante de ordens do ex-presidente.

Muito precisa ser esclarecido sobre esse misterioso caso, a começar pelo estranhíssimo procedimento de entrada no Brasil, após visita da comitiva oficial ao país árabe. Por que um assessor do almirante Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia, tentou sonegar um estojo de joias avaliado em R$ 16,5 milhões?

Dias depois da primeira revelação, soube-se que não era apenas um pacote, e sim dois. Ambos com peças valiosas da marca suíça Chopard, mas com a diferença de que a alfândega flagrou apenas um —o outro passou às escondidas para o acervo pessoal de Bolsonaro.

Para espanto ainda maior, descobriu-se semanas depois que não se tratava de um ou de dois kits com joias, mas de três —o terceiro tendo sido entregue em 2019 ao próprio Bolsonaro, que atribui o gesto à relação de amizade que construiu com o mundo árabe.

Troca de presentes entre chefes de Estado é prática antiga e corriqueira. Tanto que o ex-presidente acumulou, em sua passagem pelo Planalto, mais de 19 mil itens.

A trivialidade desse tipo de intercâmbio, contudo, só reforça as suspeitas no caso. Afinal, por que se confundir com versões diferentes ao tentar justificar algo em tese tão simples? E por que mobilizar tanta gente para, no apagar das luzes do mandato, recuperar as joias retidas no aeroporto?

Entende-se, assim, por que o caso chamou a atenção não só da PF mas também do Ministério Público Federal e da Controladoria-Geral da União. A essas investigações ainda se somam outras tantas no Supremo Tribunal Federal, no Tribunal Superior Eleitoral e na Justiça comum. Não é pouca coisa.

editoriais@grupofolha.com.br

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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