Morreu Chico Mendonça das Preacas

By | 09/04/2023 6:24 am
(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, 09/04/2023)

Faleceu no sábado, 01 de abril, no Complexo Hospital Dep. Janduhy Carneiro o agricultor aposentado Francisco Mendonça Filho, com 95 anos de idade. Descendente da Família Mendonça, pioneira do Município de Cacimba de Areia, Chico Mendonça nasceu no dia 03 de março de 1928 na Fazenda Preacas, município de Quixaba, propriedade do seu pai Francisco Félix de Mendonça. Foi grande produtor de algodão de fibra longa, entre as décadas de 60 e 80, com toda produção comercializada nas Algodoeiras de Severino Lustosa e na Carioca, em São Mamede. Muito ligado ao campo, só vinha a Patos para a feira semanal, onde se confraternizava com os vizinhos agricultores e com os inúmeros amigos que fez em Patos, ao longo de sua vida, aos quais dedicava grande apreço e respeito. Casou-se na década de 50 com a Senhora Jacira Candeia, da tradicional família Candeia de Quixaba, deixa três filhos. Seu sepultamento foi na segunda-feira, 03 de abril no Memorial Jardim da Paz, em Patos (Até aqui falava seu filho o professor universitário Isac Candeia de Mendonça). Na década de noventa eu comprei um pedacinho de terra no município de São José do Bonfim, onde hoje está a minha granjazinha Asa Branca, lugar onde tenho gozado os momentos de ócios que me eram proporcionados pelas minhas férias. Na época em que eu residia em Patos, meu pai gostava de ir comigo, nos sábados, passar o fim de semana comigo na granjazinha. Num destes domingos pela manhã, encontrei-o logo cedo, encostado na cancela da entrada olhando para o Nascente. Perguntei-lhe o que estava vendo de tão interessante e ele me respondeu que estava vendo a Serra das Preacas e contou-me que vivera na Quixaba, a sua juventude trabalhando numa bodega de Diassis Pereira. Fora ali que conhecera minha mãe com quem viria a casar em 1943. Lembrou que gostava de caçar mocós e a Serra das Preacas era um local onde abundavam os mocós e ele gostava de caçar. Lembrou dos forrós e novenas aonde ia, nas Preacas, em Cacimba de Areia, em São Mamede, nos Picotes e na própria Quixaba. Foi neste território e talvez participando de farras semelhantes que se criou Chico Mendonça, quatorze anos mais novo do que meu pai. E a partir deste dia, sempre que olho, de longe, para a Serra das Preacas, eu me lembro do meu pai e sua juventude, sofrida pelo trabalho, mas abrandada pelas festas de que participava. Juventude semelhante a que teve Chico Mendonça, com muito mais leveza por ser filho de fazendeiro. Chico era figura muito conhecida em Patos, de quem todo mundo tem uma história engraçada a contar, já que era um artista nato, com respostas para tudo. Em Patos todo dia de feira, como lembra seu filho o professor Izac, nos informes que me mandou sobre seu pai, Chico ia ver e confraternizar com os amigos. Mas Izac omitiu, em respeito a dona Jacira, que Chico dava seu pulinho no baixo meretrício, como faziam os jovens e os nem tão jovens da época, para tomar “umas e outras” e rever os amigos. E lá também deixava suas histórias. Em Patos, é muito conhecida uma história sua, ao ser encontrado num dia pela manhã, na calçada do Banco do Brasil. O amigo indagou-lhe: “O que está fazendo aí, Chico Mendonça, não é tempo de custeio (empréstimo rural, para tratar dos roçados)?”  Chico lhe respondeu que estava “ataiando” os cheques que passara durante o carnaval. Outra de Chico Mendonça eu próprio ouvi em 1989, logo depois do primeiro turno das eleições, em que Lula perdera para Color, o que ia ser confirmado no segundo turno. Sabendo que eu era lulista, na época militante do PT, e que inclusive apresentara, com transmissão da Espinharas, um grande comício realizado no Largo da Sertaneja, Chico me disse: “Sabe por que Lula está perdendo as eleições?”: E me justificou: “Porque está prometendo trabalho para o povo. E o povo quer emprego, não quer trabalho não”. De cada um que o conheceu você ouvirá uma “saída” semelhante ouvida de Chico Mendonça, que certamente deixou muita lembrança em todos e todas que o conheceram de perto. Perdi um velho e querido amigo. Chico Mendonça, o Matuto Teimoso, imortalizado pelo saudoso Pinto do Acordeom.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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