Bolsonaro ensaia discurso de vítima e deve recorrer ao STF contra inelegibilidade

By | 19/04/2023 7:48 am

Aliados dizem que ex-presidente está inconformado com processo no TSE; julgamento pode ocorrer ainda em abril

 

(Marianna Holanda e Julia Chaib, na Folha em 19/03/2023)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está inconformado com o processo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que pode levar à sua inelegibilidade, segundo aliados.

A avaliação dele e de seu entorno é que a ação é política e, por esse motivo, a estratégia é adotar um discurso de “vítima do sistema” e recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) se a pena for confirmada na corte eleitoral.

O ex-presidente Jair Bolsonaro em evento no resort de Trump em fevereiro – Joe Readle/Getty Images via AFP

Reverter a decisão no Supremo é algo considerado, por uma ala de aliados de Bolsonaro, ainda mais difícil do que conseguir placar favorável no TSE. Eles avaliam, no entanto, que a palavra final não será pelo tribunal eleitoral.

Não descartam também, futuramente, quando a composição do TSE for alterada e o ministro Alexandre de Moraes tiver deixado a presidência, entrar com recursos contra uma decisão desfavorável.

Segundo a coluna da Mônica Bergamo, Bolsonaro continuará buscando reverter o cenário e não pretende se render, nem indicar sucessor.

À Folha o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que o pai será o “maior cabo eleitoral da história”, dando o tom da estratégia que será usada para mostrar o ex-presidente como vítima e fortalecer o bolsonarismo.

Na semana passada, a Procuradoria Eleitoral deu parecer favorável para que o ex-chefe do Executivo perca o direito de se candidatar pelos próximos oito anos. O julgamento pode ocorrer ainda em abril, segundo integrantes do tribunal e do entorno de Bolsonaro.

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, disse à reportagem que o parecer do Ministério Público Eleitoral pedindo inelegibilidade é “absurdo”.

Aliados apontam como elemento para uma suposta perseguição o fato de dentre 21 processos a ação na Justiça Eleitoral que pode torná-lo inelegível ser a única que está correndo de forma célere.

Além disso, citam a rapidez com que o processo andou –em comparação com o julgamento da ex-presidente Dilma Rousseff no passado, que demorou mais de dois anos até a decisão final, em 2017. Outra evidência, acrescentam esses aliados, é o fato de terem sido acrescentadas informações novas sobre os ataques golpistas de 8 de janeiro, quando apoiadores de Bolsonaro insatisfeitos com o resultado eleitoral depredaram a sede dos três Poderes.

Nas alegações finais, a defesa de Bolsonaro defende a nulidade do processo, diz que não teria como uma reunião realizada com embaixadores no meio do ano passado ter levado aos atos golpistas de janeiro.

O documento de mais de 70 páginas é assinado pelo advogado e ex-ministro do TSE Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e sua equipe.

Os advogados afirmam ainda que o ex-presidente nem sequer estava no Brasil quando se desenrolou o episódio –Bolsonaro viajou para os Estados Unidos em dezembro passado, antes do final do mandato, ignorando o rito democrático de passar a faixa para o sucessor.

Para interlocutores do Bolsonaro, o ideal era que o processo fosse julgado mais adiante, no segundo semestre, quando esperam que o clima político esteja menos tenso e mais distante dos atos golpistas de janeiro.

Porém a expectativa tanto no TSE como entre aliados de Bolsonaro é que o julgamento ocorra nas próximas duas semanas. Se Moraes pautar já o processo, avaliam, é sinal de que o ex-presidente será mesmo condenado. Ainda que haja pedido de vista de algum ministro, seria por apenas 60 dias, e dificilmente haveria alguma mudança substancial no caso.

No entorno de Bolsonaro, trabalha-se por um placar de quatro votos favoráveis a Bolsonaro e três contrários. A maior dúvida gira em torno do voto do ministro Carlos Horbach, cujo mandato termina em maio. Ele pode ser reconduzido a depender do aval de Moraes.

Em 2021, Horbach votou contra a cassação do mandato do então deputado estadual paranaense Fernando Francischini (à época no PSL) por propagação de notícias falsas sobre as urnas eletrônicas. Foi o único voto nesse sentido no TSE, o que levanta dúvidas se ele votaria por condenar Bolsonaro.

O problema, apontam aliados do ex-presidente, é ele dar um voto divergente em relação a Moraes, o que dificultaria o processo de recondução.

Aliados de Bolsonaro defendem que não há motivo jurídico para impedir que ele se candidate no futuro.

A ação que mira a inelegibilidade do ex-presidente foi movida pelo PDT no ano passado e argumenta que Bolsonaro usou a estrutura do Alvorada para atacar a integridade do sistema eleitoral na reunião com embaixadores.

Depois, em janeiro, o partido pediu a inclusão no processo da minuta golpista encontrada pela Polícia Federal durante busca e apreensão na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres.

A legenda argumentou que a minuta encontrada seria um “embrião gestado com pretensão a golpe de Estado”, sendo apto a “densificar os argumentos que evidenciam a ocorrência de abuso de poder político tendente promover descrédito a esta Justiça Eleitoral e ao processo eleitoral, com vistas a alterar o resultado do pleito”.

O documento propunha um decreto para instaurar estado de defesa na sede do TSE para rever o resultado do pleito. A minuta deu robustez à ação, consideram integrantes do tribunal.

Isso significa, no entender de membros do TSE, que o relator pode finalizar o parecer sobre o tema e liberar o caso para julgamento ainda na próxima semana. Se isso se confirmar, caberá a Moraes definir se inclui ou não o processo na pauta de abril.

Advogados de Bolsonaro afirmaram, nas alegações finais do processo, que o encontro com embaixadores foi “de interesse das relações exteriores do Brasil, diante do debate público instaurado à época”.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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