Contagem regressiva
A seis dias, seis ou cinco horas, não sei quantos minutos e segundos (confira na contagem regressiva postada neste blog) do início do seu julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral, marcado para a próxima sexta-feira, dia 22, o ex-presidente Jair Bolsonaro parece conformado com a cassação dos seus direitos políticos.
Salvo se o ministro Kassio Nunes Marques pedir vista do processo, adiando o julgamento, o placar será de 6 a 1 ou de 5 a 2 pela condenação de Bolsonaro. Ele é acusado de ter cometido abuso de poder político e atos hostis à democracia quando reuniu em julho de 2022 dezenas de embaixadores no Palácio da Alvorada.
Na ocasião, em evento transmitido pela televisão estatal (daí o abuso do poder político), ele apresentou falsas teorias sobre a insegurança das urnas eletrônicas e atacou ministros do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal (daí os atos hostis à democracia). Responde a mais 15 processos.
Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, um ex-presidente se entregou à justiça federal e foi fichado. Acontece que mesmo que condenado e preso, Trump poderá disputar as próximas eleições. Caso as vença, será curioso vê-lo governar de dentro da cadeia. No seu país não há lei como a da ficha limpa.
Os partidários de Trump estão furiosos e em campanha para o reeleger. Os de Bolsonaro, pelo menos até aqui, estão silenciosos e inativos. A extrema-direita não deixará de existir com o provável naufrágio do seu guia. Mas a direita dita civilizada celebrará a chance de disputar a eleição de 2026 com outro nome.
O bolsonarismo está aos cacos. Tem a ala dos presos (Mauro Cid, Daniel Silva e Roberto Jefferson, entre outros). Tem a ala dos que viraram réus (mais de mil participantes da tentativa de golpe do 8/1). Tem a ala dos ressentidos (os ex-ministros Ricardo Salles e Abraham Weintraub). E tem a ala dos desamparados (são muitos).
Sem falar da ala dos que passaram a se desentender em público. Ciro Nogueira (PP-PI), ex-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, chama de “louca” a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Que devolve lembrando que Nogueira era chamado de “Helicóptero do Cerrado” por delatores da Operação Lava-Jato.
Basta? Não. O senador bolsonarista Marcos do Val (Podemos-ES) foi alvo, ontem, da Polícia Federal que apreendeu seu celular e documentos. É investigado por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta de governo legalmente constituído, associação criminosa e divulgação de informações sigilosas.