Câmara tenta criar cidadãos de primeira e segunda classe, enquanto PF insiste em mostrar que ‘todos são iguais perante a lei’
O projeto cria privilégios inadmissíveis para Pessoas Politicamente Expostas (PPEs), sem debate e conhecimento da sociedade. De repente, do nada, a urgência foi colocada em votação na noite de anteontem, aprovada rapidinho e, já na sequência, o projeto foi vitorioso, por 252 a 163 votos, prevendo multa e prisão de até quatro anos para agentes financeiros que se neguem a abrir contas ou crédito para as PPEs investigadas e processadas.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, articulou a aprovação no escurinho do cinema, os líderes aderiram, o governo lavou as mãos e tudo foi resolvido num estalar de dedos. A autora do projeto é a deputada Danielle Cunha (União Brasil-RJ), filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, cassado, condenado e preso por corrupção, e a votação começou antes da apresentação formal do parecer do relator, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), da confiança de Lira.
O projeto segue agora para o Senado e, aparentemente, não foi só a sociedade brasileira que foi pega de surpresa, o próprio Senado também. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, disse que nem sabia do que se tratava. O líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, admitiu que é, “no mínimo, polêmico”.
O resultado é que, em vez de proteger os políticos, a Câmara acaba de aumentar a ira da sociedade contra eles. E o pior é que só Novo, PSOL, PCdoB e Rede se colocaram contra. O PT liberou geral, o PL se dividiu, o governo se embolou com Lira.
É assim que o Congresso, pilar da democracia, mancha a própria imagem, esgarça a confiança da sociedade nos Poderes, nos partidos e nos políticos. Para “descriminalizar” a política é preciso que deputados e senadores parem de legislar em causa própria, de chantagear os governos e de usar energia para ampliar seus privilégios – que não são poucos! Quem “discriminar” Do Val vai ser preso?