Lula é um sujeito de sorte

By | 19/06/2023 5:04 am

Com um cenário exterior bem melhor do que o previsto e sinais positivos na economia interna, está na hora de o presidente aproveitar a sorte para fazer escolhas certas

 

(Editorial do Estadão, em 19/06-2023)

 

]Imagem ex-librisLula da Silva é um sujeito de sorte, não há como negar. Eleito para seu terceiro mandato na Presidência da República quando o ponteiro da bússola econômica mundial apontava para um período de recessão longo e penoso, ele chega ao fim do primeiro semestre de governo diante de uma nova realidade. A recessão não saiu do radar, mas vem sendo postergada, para alívio geral, especialmente nas duas economias de maior peso: Estados Unidos e China.

Impossível avaliar agora a duração desse desafogo, mas o simples fato de estar ocorrendo já é suficiente para revisar para cima expectativas para a nossa economia. Conforme destacou reportagem do Estadão, o quadro externo surpreendentemente mais positivo do que se esperava deve levar a um saldo recorde na balança comercial brasileira, com superávit superior a US$ 70 bilhões, e carimbar com o selo de recorde o desempenho de 2023.

Em janeiro, o relatório Perspectivas Econômicas Globais, do Banco Mundial, alertava para o risco iminente de o mundo enfrentar duas recessões numa mesma década. Não seria algo inédito, mas um fato raro, dado que o último registro semelhante ocorreu há mais de 80 anos. Estávamos, no início deste ano, a um passo do precipício. Bastava carregar um pouco nas cores do cenário adverso, como numa ameaça de recidiva da pandemia de covid, por exemplo, para que a recessão global se materializasse.

Naquela ocasião, as estimativas giravam em torno de uma desaceleração generalizada do crescimento econômico, com revisões para baixo para a quase totalidade das economias avançadas. A previsão do crescimento mundial era de 1,7% em 2023. Neste mês o relatório foi recalibrado e a projeção para o PIB mundial aumentou 0,4 ponto porcentual, para 2,1%. Ainda que represente uma angustiante lentidão na marcha econômica e um recuo ante a taxa de 3,1% de 2022, já é um respiro.

Consultores, analistas e economistas ainda se debruçam sobre o que estaria causando esse fenômeno na atividade, mesmo em meio à queda de confiança de investidores e consumidores neste retorno à normalidade pós-covid. Que essa tarefa fique com eles, para esquadrinhar, com a expertise que detêm, os fatores movimentadores da economia. Para o Brasil, mais importante do que identificar as razões para a melhora das perspectivas é saber aproveitar a chance posta diante de nós.

A conjuntura interna – a despeito dos atropelos políticos que colocam na berlinda o modus operandi de Lula versão 3 – apresenta avanços importantes, como a aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto do arcabouço fiscal e a apresentação do relatório preliminar da reforma tributária. São medidas imprescindíveis para estabelecer um eixo norteador do desenvolvimento econômico.

Some-se a isso o PIB empurrado pela agropecuária no primeiro trimestre, o desempenho inflacionário abaixo do que se esperava no IPCA de maio e o câmbio sem sobressaltos, e está pavimentado o caminho para adoção de medidas seguras para o crescimento. Mas, apesar da cena interna relativamente sob controle e dos sinais vindos do exterior, o governo insiste em passar uma imagem de desorientação.

Quando dá mostras de saudosismo descabido, tentando reeditar medidas que não fazem mais sentido para a economia, como o malfadado “carro popular”, ou apresentar-se como liderança mundial reeditando o discurso mofado da guerra fria, Lula mostra que navega as águas turbulentas de 2023 com a lanterna na popa.

Sorte é ótimo. Mas de pouco adianta se não vier acompanhada das escolhas certas. Nos últimos anos o País foi “governado” (aspas necessárias) por Jair Bolsonaro, um dos presidentes mais despreparados da história – e, para piorar, azarado, pois enfrentou uma pandemia e uma guerra. Mas, como ensina Maquiavel, o bom governante é aquele capaz de montar estratégias (virtù) para não ficar à mercê das circunstâncias (fortuna). Por indolência, Bolsonaro não teve virtù e viu-se atropelado pela fortuna. Espera-se que Lula tenha aprendido com Maquiavel e Bolsonaro que não se deve governar contando somente com a sorte.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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