Essa pergunta, aliás, tem sido feita pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, que sugeriu ao presidente Lula mover Haddad da Fazenda para a articulação política. Lula deu de ombros e Haddad continuou atacando na economia e defendendo na política. É assim que o governo deverá ter vitórias importantes nesta semana, inclusive a aprovação do arcabouço fiscal no Senado.
Enquanto Lula se atrapalhava na política externa, negligenciava da interna e era obrigado a um recuo atrás do outro, Haddad seguiu firme, forte e discreto, angariando apoios à esquerda e à direita (talvez mais à direita…), no Congresso, no setor produtivo, no financeiro. Construiu pontes com o poderoso Arthur Lira e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e já foi chamado até mesmo para negociar com o MST. Quanto aos ataques do PT, ele vai levando.
Ninguém levava muito a sério Haddad na Fazenda, como homem forte da economia, do governo e virtual ungido por Lula também para sua própria sucessão. Ele parecia excessivamente “low profile”, muito técnico, com pouco carisma e até mesmo amigos avaliavam que ele caberia melhor no Planejamento. Pois ele assumiu e surpreendeu.
Depois de pressões e muxoxos contra a “articulação política” – leia-se: por ministérios, cargos, emendas e verbas –, Lula entrou em campo e, antes de embarcar, nesta segunda-feira, 19, para Itália, Vaticano e França, se encontrou com Arthur Lira na sexta-feira, 16. Teria ainda reunião com os dois presidentes do Senado no próprio dia da viagem: Rodrigo Pacheco, de direito, e Davi Alcolumbre, de fato. Mas o encontro foi adiado na última hora.
Com ou sem esse tripé, com ou sem ceder ministérios, Lula deverá ter boas vitórias na semana: arcabouço fiscal e Cristiano Zanin, além do início da CPI do golpe e do julgamento de Bolsonaro no TSE. No mais, é trazer boas fotos da Europa, com o papa e com o Coldplay, enquanto Haddad cuida de boas notícias na economia.