(Deusimar Wanderley Guedes, Educador Físico, Psicólogo e Advogado, em MaisPB, 27/06/2023)
Estelionatários e psicopatas são primo-irmãos, e, entre os estelionatários, existem muitos que são psicopatas.
Ambos são experts na arte de se camuflar, dificultando o seu reconhecimento no dia a dia.
O termo estelionato vem do Latim stellio, que significa “lagarto que muda de cores (camaleão), iludindo os insetos de que se alimenta”. A principal força destes criminosos está exatamente na manipulação e na mentira patológica.
O estelionatário é um ator, geralmente se veste bem, fala bem, é educado e cordial, é mestre da camuflagem, comumente não usa violência física e não sente remorsos pelos seus atos. Um grande estelionatário também é sempre um grande sedutor.
O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 171, caracteriza o crime de estelionato como o ato de “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.
Existem muitos exemplos de estelionatos, sendo os mais conhecidos o conto do bilhete premiado, o falso sequestro, e o “estelionato do amor”, praticado por falsários sedutores ou estelionatários “sentimentais”. Este último, geralmente se inicia pelas redes sociais, e as principais vítimas são mulheres fragilizadas sentimentalmente, após o fim de um relacionamento, por exemplo.
Já a psicopatia é um transtorno de personalidade antissocial, e, embora muitas pessoas, inclusive profissionais de saúde, considerem este mal como sendo sinônimo de sociopatia, isto não é verdade, são transtornos diferentes, apesar de apresentarem muitas características semelhantes, como: desprezo por regras, leis e código moral; pelo direito dos outros; incapacidade de sentir remorso e culpa; tendência em ter comportamentos violentos etc. Estas características em geral são menos acentuadas nos sociopatas.
Os psicopatas comumente são organizados, cautelosos, calculistas, meticulosos, articulados, carismáticos, manipuladores, incapazes de criar laços ou sentir remorsos, fingem sentimentos e emoções, e planejam suas ações com muito cuidado para não serem descobertos. Enquanto os sociopatas, aparentam desorganização, explodem facilmente, são agressivos, têm ataques de ira, e também não sentem remorsos.
Segundo o psicólogo canadense Robert Hare, a maioria dos psicopatas não são criminosos. Isso contraria o senso comum que associa a psicopatia a assassinos e serial killers. O que caracteriza a psicopatia é a adoção de um estilo de vida predatório, seja no âmbito profissional ou afetivo. E a maioria dos estudiosos acreditam que este mal tem origem em fatores genéticos ou hereditários, enquanto a sociopatia tem origem em fatores sociais, como traumas infantis, má socialização e abusos na infância.
Estes são transtornos que normalmente cujos sinais aparecem na infância ou começo da adolescência e continuam na idade adulta, e não têm cura. Nos homens, tendem a ser mais evidentes antes dos 15 anos de idade, enquanto nas mulheres pode passar despercebido por muito tempo, principalmente porque as mulheres costumam ser mais discretas e menos impulsivas que os homens.
Como acima descrito, existem muitos traços comuns entre o comportamento de um psicopata e o de um estelionatário. Mas, apesar de parentes próximos, os psicopatas clássicos não têm um funcionamento normal do chamado “sistema límbico” do cérebro, que é o sistema emocional, responsável pelos sentimentos. Sistema este que faz com que o ser humano sinta empatia pelo outro e reaja afetivamente. Daí tal mal ser caracterizado como um transtorno de personalidade antissocial. Já o estelionatário é aquele indivíduo que adota um tipo de comportamento predatório com o afã de levar vantagens indevidas e criminosas contra as outras pessoas. Portanto, tal comportamento está elencado na legislação pátria como crime. Poderíamos dizer que todo psicopata é um potencial estelionatário, mas a maioria dos estelionatários não são portadores de psicopatia.
Assim, são muitas as similaridades entre o comportamento dos psicopatas com aquele dos estelionatários, ambos costumam ser: eloquentes, egocêntricos, não sentem remorso ou culpa, não têm empatia e são essencialmente enganadores e manipuladores. E quando são pegos na mentira, mudam a versão com facilidade, criando uma estória cobertura, inclusive tentam jogar a culpa dos seus atos na vítima.
Em se tratando dos estelionatários do amor ou sentimental, estes são certamente os que mais danos provocam as suas vítimas, pois além do desfalque financeiro, estas também são esfaceladas sentimental e emocionalmente. Em geral, estas resistem em falar sobre o que passaram exatamente pela desconfiança que desenvolvem em relação às pessoas, e por comumente se auto culpabilizarem por terem se deixado enganar. Muitas vezes são acometidas de depressão ou outros transtornos psiquiátricos, além de alimentarem um receio crônico acerca de novos relacionamentos.
Portanto, é muito importante para ajudar pessoas com esses transtornos, o apoio persistente dos familiares, amigos e também de profissionais como psicólogo(a)s, médico(a)s etc., para que elas saibam que não estão sozinhas e que, estelionatários e psicopatas, são exceções entre os seres humanos, e que na sociedade, a esmagadora maioria das pessoas é dotada de virtudes, e assim sendo, serão capazes de apoiá-las e ampará-las trazendo-as de volta ao bem viver.
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