Triplamente derrotado, ex-presidente enfrentará o futuro sem cargo e sem candidatura
Jair Bolsonaro deixou um rastro de devastação. A demolição de políticas públicas, a negligência como método de governo, o incentivo à selvageria, a corrosão da democracia e o envenenamento institucional foram produtos de seu ciclo no poder. A fatura pelos prejuízos chega para o ex-presidente em parcelas.
Bolsonaro sofreu três grandes derrotas em oito meses. O fracasso na eleição foi a primeira e a mais humilhante, já que o voto é um dos pilares principais de qualquer populista. A segunda foi a frustração do plano de golpe com o qual o capitão e seus aliados mais radicais sonhavam.
A inelegibilidade declarada pelo TSE se soma ao pacote. Bloqueia o retorno de Bolsonaro ao poder antes de 2030 e limita, em médio prazo, seu acesso a instrumentos para se recuperar dos outros reveses.
A notícia ruim é que, apesar de não ter conseguido o que queria, ele deixou sua marca. Conquistou um eleitorado numeroso e sólido (com uma parte simpática a teses autoritárias), deu fôlego a facções militares golpistas e cristalizou a desconfiança em relação aos tribunais.
Essa herança cria condições para que o bolsonarismo continue a ser cultivado, mesmo que o chefe não possa representá-lo nas urnas. A partir de agora, serão testados o poder do ex-presidente de adubar o terreno apenas como cabo eleitoral e o controle que ele exercerá sobre um processo inevitável de sucessão.
A conta de Bolsonaro ainda não está fechada. Além da tripla derrota, o ex-presidente enfrenta uma fila de inquéritos e processos. Sem candidatura, ele tem um megafone a menos para se vitimizar. Sem cargo, perde a blindagem de procuradores e congressistas amigos.