A pior derrota de Bolsonaro é a que ainda pode vir

By | 02/07/2023 10:29 am

Ex-presidente tem de convencer seus aliados de que segue tão necessário quanto antes após ficar inelegível no julgamento do TSE

(Renata Agostini, no Estadão, em 02/07/2023)

Foto do autor: Renata AgostiniJair Bolsonaro esmerou-se por décadas em ser um deputado medíocre. Mostrou-se, porém, um candidato tão imprudente quanto bem-sucedido, ao encontrar numa audiência farta da mesmice produzida pela política ouvidos moucos para os absurdos que estava acostumado a proferir.

Na Presidência, provou-se inepto. Incapaz de repetir a astúcia que o levou a emudecer na reta final da campanha de 2018, tornou-se um produtor serial de complicações para si mesmo – e de adversidades para o País.

Nada disso sacou-lhe o apoio das urnas. Se foi o primeiro presidente a não se reeleger, também mostrou que seu capital político, de tão grande, era capaz de resistir até a um governo seu. Perdeu por uma diferença pequena demais para ser ignorada.
Jair Bolsonaro está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Jair Bolsonaro está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Foto: Wilton Junior/Estadão

É por isso que o real teste para Bolsonaro ainda se avizinha. Com a condenação que lhe retira a possibilidade de concorrer por longos oito anos, Jair tem de convencer seus aliados de que segue tão necessário quanto antes.

O deputado medíocre, que se reinventou num candidato bem-sucedido e num fenômeno eleitoral persistente, precisa metamorfosear-se em líder político. O jogo de sobrevivência do bolsonarismo começa agora.

Não faltará aos profissionais da política – leia-se Valdemar Costa Neto e próceres do Centrão – vontade de espremer até o talo sua capacidade de virar votos, enquanto repetem que pouco mudou. Não interessa ao PL desvalorizar o passe de Bolsonaro de imediato. Mas tampouco esse grupo irá titubear em abandoná-lo caso o bolsonarismo comece a minguar. Será, portanto, responsabilidade de Jair manter-se como um ativo reluzente a seduzir o Centrão.

O início não parece alvissareiro. Quem está de fora não viu de pronto motociatas, aglomerações em aeroportos, tampouco onda de protestos e convocações significativas pelas redes sociais diante da cassação. Não houve evento partidário nem ato de apoio de aliados políticos. Por medo, desinteresse ou estafa, a reação da militância bolsonarista foi até o momento, no mínimo, tímida.

Quem está próximo de Bolsonaro também antecipa dificuldades. Sem mandato desde janeiro, Bolsonaro parece perdido: ora recolhido, ora disposto a ir a público para defender-se dos seus muitos problemas judiciais. Em conversas privadas, externa consternação e tristeza, como se entendesse que a fatura chegou, me disse um aliado.

Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto em cerimônia de filiação ao PL
Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto em cerimônia de filiação ao PL Foto: Divulgação/PL

Mesmo tendo vitaminado o PL e feito o partido formar a maior bancada da Câmara, foi incapaz até o momento de organizar a oposição. Lula está mais preocupado em prever os passos de Arthur Lira do que se vacinar contra lances da oposição bolsonarista. Não faltam flancos a serem explorados em Lula 3. Falta estratégia a quem deveria antagonizá-lo.

Este mesmo Lula soube resguardar seu poderio político ao ser alijado do jogo eleitoral. Tinha ao seu lado uma militância histórica, um partido organizado e a certeza de que, sem relevância política, estaria perdido. Bolsonaro saiu derrotado da eleição e perdeu a chance de concorrer nas próximas eleições. Mas, se não souber jogar muito bem daqui para a frente, a pior derrota é a que ainda pode vir.

Comentário

Category: Últimas

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *