Enquanto Jair Bolsonaro digere sua inédita condição de inelegível e claudica para encontrar alguma forma de parecer uma liderança política digna de ser ouvida mesmo do porão da irrelevância, seu partido, o PL, já bate às portas do governo Lula da Silva para negociar cargos em áreas estratégicas da administração federal. Se ninguém é tolo em Brasília, menos ainda o chefão do PL, o notório Valdemar Costa Neto, e o presidente da República. A aproximação interessa aos dois.
Como o Estadão revelou há poucos dias, Valdemar, nem bem o Tribunal Superior Eleitoral declarou Bolsonaro inelegível por oito anos, liberou os parlamentares da bancada do PL – composta por 99 deputados e 14 senadores – para negociar com o Palácio do Planalto a indicação de cargos e liberação de emendas em troca do apoio de ao menos parte do partido ao governo no Congresso, particularmente na Câmara dos Deputados.
Nesse esforço de aproximação com Lula, o PL conseguiu emplacar o engenheiro Fábio Pessoa da Silva Nunes como diretor de Infraestrutura Rodoviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Não é uma conquista trivial. Em primeiro lugar, porque se trata de uma das mais cobiçadas diretorias da autarquia federal, por ser responsável pela manutenção de rodovias País afora e, consequentemente, por administrar um pomposo orçamento.
Além disso, a posse de Fábio Nunes – aliado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao qual serviu como diretor de Planejamento e Projetos Especiais do Ministério da Infraestrutura no governo Bolsonaro – marca a volta de Valdemar Costa Neto ao controle de áreas vitais do Dnit, espécie de “feudo” histórico do PL nos últimos governos.
Essa relação entre PL e Palácio do Planalto é de aparente ganha-ganha. Ao PL, cuja imagem está hoje fortemente associada a Bolsonaro, interessa negociar com o governo Lula, por um lado, e deixar a cargo de seus parlamentares mais radicais, ainda ligados ao ex-presidente, o discurso raivoso de oposição. A Lula, por sua vez, interessa rachar o PL, a maior bancada da Câmara e uma das maiores do Senado, e ampliar tanto quanto conseguir o número de votos de parlamentares do partido em projetos de interesse do governo no Congresso.
Até aí, jogo jogado. É a política seguindo seu curso natural após Bolsonaro virá-la do avesso ao longo de quatro longos e tenebrosos anos. A formação de coalizões de governo implica, necessariamente, compartilhamento de poder entre as forças políticas com representação na sociedade e, consequentemente, no Congresso. E partilha de poder se materializa, na prática, com essas indicações para cargos públicos e liberações de verbas. O busílis é em que base são feitos esses arranjos.
Dada a névoa de suspeitas de corrupção no Dnit que pairam sobre as gestões do PL, não seria prudente reabrir uma fresta que seja da autarquia à influência do sr. Valdemar Costa Neto sem clareza. Lula decerto conhece bem os termos de suas alianças políticas. Mas quem também precisa conhecê-los é a sociedade.
Comentário nosso
São todos “cobras criadas”, Não é de admirar que já estejam desembarcando de Bolsonaro e se encostando no Governo Lula. Desde sempre são governistas. Os interesses deles acima de tudo. Com o Bozo só vão ficar os “tarados”. Quem viver verá. E estes vão se aferrar a Tarcísio de Freitas, pensando em, através dele, faturar alguma coisa, agora ou no futuro. (LGLM)