‘Quem avisa amigo é’; Haddad trava venda de blindados brasileiros para Argentina (seguido de comentário nosso)

By | 11/07/2023 8:28 am

Ministério da Defesa e Exército insistem em negócio que beneficia indústria bélica nacional

(Coluna da Eliane Cantanhêde, no Estadão, em 10/07/2023)

Foto do autor: Eliane CantanhêdeÀs voltas com o Centrão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também está sob dois fogos cruzados dentro do próprio governo. De um lado, a Defesa insiste no financiamento da venda de 156 blindados Guarani para a Argentina. De outro, a Fazenda pondera que é temerário (bota temerário nisso) financiar qualquer coisa para um país mergulhado numa crise tão aguda.

Cada Guarani produzido pela Iveco Defesa, uma empresa privada, custa em torno de R$ 10 milhões, pouco mais, pouco menos, dependendo do dólar. Façam a conta. A Defesa e particularmente o Exército, porém, consideram o negócio importante para estimular a indústria de defesa nacional, que traz tecnologia, qualificação e novos negócios mundo afora.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se opõe à venda de blindados brasileiros para a Argentina
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se opõe à venda de blindados brasileiros para a Argentina  Foto: André Borges / EFE

Já a Fazenda contra-argumenta que a Argentina faz água por todo lado, nas áreas política, econômica e social, e como terá condições para pagar uma bolada dessas, se não consegue nem cumprir seus compromissos internos mais elementares? Nosotros, os leigos brasileiros e argentinos, poderíamos acrescentar: com tantos problemas, por que, raios, o presidente Alberto Fernandez vai querer jogar essa fortuna em blindados?!

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Argentina Alberto Fernández durante visita da autoridade argentina ao Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Argentina Alberto Fernández durante visita da autoridade argentina ao Brasil Foto: WILTON JUNIOR / ESTADAO CONTEUDO

Lula e Fernandez assinaram uma carta de intenções, em janeiro, o comandante do Exército, Tomás Paiva, foi ao país em junho e o presidente argentino já veio aqui quatro vezes, mas não há quem convença a Fazenda. Lula e José Múcio, da Defesa, já ligaram para Fernando Haddad, o Itamaraty se move e até Geraldo Alckmin, vice e ministro da Indústria, e Celso Amorim, assessor internacional, entraram na história. E as “intenções” continuam só intenções.

Um pacotaço de US$ 17 bilhões para projetos de ajuda à Argentina, 40% deles para financiamento de exportações chegou ao BNDES e ao Banco dos Brics, presidido por Dilma Rousseff, e à Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF), empresa pública vinculada à Fazenda, que avaliza “operações diluídas em áreas de grande interesse econômico e social”.

Venda de blindados para a Argentina é de grande interesse econômico e social? O que o Brasil e os brasileiros ganham com isso? E o que podem perder? Os argentinos atribuem sua crise a quatro anos seguidos de seca e juram que, daqui para frente, tudo será diferente. Vem chuva por aí e vão chover também recursos para os problemas internos e pagar as dívidas externas. Mas há controvérsias, até porque o El Niño não promete moleza.

Se é difícil convencer a área econômica, mais ainda será convencer a opinião pública brasileira. Haddad, aliás, alertou Lula para o risco: “Estou falando tudo isso para lhe preservar. A gritaria vai ser grande”. Quem avisa amigo é.

Comentário nosso

Lula está, na realidade, “entre a cruz e a espada”. Haddad tem suas razões e sua responsabilidade. É realmente uma temerida emprestar dinheiro a quem está, literalmente “quebrado”. O Exército tem suas razões, quer desenvolver a indústria de material bélico, embora vá “armar um vizinho”. O Itamaraty tem lá suas razões, o Brasil se sobressairia na diplomacia, ajudando um país quebrado, embora suas chances de recuperação econômica sejam duvidosas. E Lula tem que enfrentar a opinião pública, qualquer quer seja a decisão que tome. É, para o presidente Lula, uma verdadeira “sinuca de bico”. Já que poderá ter um preço a pagar no futuro. (LGLM)

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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