Os marajás do serviço público

By | 24/07/2023 8:23 am

Graças a ‘penduricalhos’, 25,3 mil funcionários têm remuneração mensal superior ao teto

 

 

Imagem ex-libris

Há no Brasil uma casta de 25,3 mil servidores públicos que, a cada mês, recebem remuneração acima do teto definido pela Constituição, atualmente de R$ 41,6 mil. Por meio de “penduricalhos” e dribles em regras aplicadas ao restante do funcionalismo federal, estadual e municipal, tais privilegiados se regalaram com o acréscimo médio de R$ 12.685 em seus holerites – algo como 9,6 salários mínimos a mais. O somatório desses artifícios alcançou R$ 3,9 bilhões em 2022, cuja ausência em áreas prioritárias certamente foi notada pela população. O custo dessa corrosão da moralidade no serviço público, infelizmente, não está dimensionado.

Recente estudo do Centro de Liderança Pública, organismo voltado para a gestão e formação de servidores, concluiu que essa casta representa 0,23% dos servidores estatutários nas três esferas de governo. Como concursados, são agraciados pela estabilidade no emprego, um benefício inimaginável na iniciativa privada. Como parte de uma elite extraoficial, destacam-se dos demais pela remuneração superior à dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que serve como referência máxima até mesmo para o contracheque do presidente da República.

Como informou o Estadão, um único funcionário público recebeu nada menos do que R$ 302,2 mil mensais no ano passado, quando o teto era de R$ 39,3 mil mensais. A remuneração desse servidor foi quase oito vezes maior do que o teto e superou em 54 vezes a média do funcionalismo público, algo como R$ 5.600.

As manobras para engrossar os proventos – vale ressaltar, pagos pelos contribuintes – proliferam pela falta de regulamentação do artigo 37 da Constituição de 1988, que fixa o limite da remuneração. A negligência do Congresso Nacional e do governo federal diante desse abuso é flagrante. Projeto de lei para normalizar esse tópico dorme na Comissão de Constituição e Justiça do Senado há dois anos. Se tivesse sido sancionado em 2021, calcula-se que o texto teria provocado uma economia de R$ 2,6 bilhões aos cofres públicos.

Essa inércia abriu as mais inusitadas brechas, como a classificação de proventos adicionais como indenizações. Como tais, não são somados à remuneração do servidor, que permanece “legalmente” abaixo do teto. Cientes dessa malandragem, os congressistas e a administração tornam-se cúmplices desses malfeitos.

A reforma administrativa daria a oportunidade para se debater o fim de práticas antiéticas no serviço público, bem como para adequá-lo às melhores práticas de gestão da máquina pública e de atendimento aos cidadãos. O próprio teto salarial teria que ser rediscutido como meio de adequar a remuneração do funcionalismo à do mercado de trabalho, e assim evitar a perda de cérebros a serviço dos governos, e para valorizar as categorias que merecem a classificação de prioritárias, entre elas a dos professores. Não há dúvida, infelizmente, que esse projeto continuará a hibernar, ao longo do governo Lula da Silva, tão profundamente como a regulamentação do artigo 37.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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