No Sistema Nacional de Transplantes, todos os brasileiros são tratados igualmente, sem privilégios ou distinções
Em meio a tantas desigualdades, porém, há uma ilha de excelência no setor público onde todos os brasileiros são tratados como devem ser, ou seja, de forma humana e isonômica; e o primado da Constituição segundo o qual “a saúde é direito de todos e dever do Estado” é materializado de forma efetiva: trata-se do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), gerido pelo Ministério da Saúde.
Há alguns dias, o apresentador Fausto Silva, o Faustão, divulgou um vídeo no qual informava que, acometido por insuficiência cardíaca grave, havia entrado na lista única de espera por um transplante de coração. Realizada no domingo passado, a cirurgia foi, segundo o boletim médico, bem-sucedida.
No vídeo, Faustão destacou que, embora estivesse internado em um hospital particular de primeira linha na capital paulista, seu transplante seguiria, como de fato seguiu, o mesmo padrão técnico de qualquer outro realizado em usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso ocorre porque todos os que precisam de um transplante de órgãos no País são inscritos em uma lista de espera no âmbito das Secretarias Estaduais da Saúde que alimenta a lista nacional do SNT, sendo uma fila para cada órgão.
A espera por um transplante não depende, portanto, da situação econômica dos pacientes. Prevalecem, entre outros critérios administrados com muita seriedade pela administração pública, a gravidade do estado de saúde do potencial receptor e a compatibilidade entre este e o órgão do doador. Não há razão para desconfiar da lisura de todo o processo, da captação à cirurgia. Ao contrário, o SNT é motivo de orgulho para toda a sociedade.
“No dia em que o Brasil funcionar como funciona a lista única de transplantes, nós seremos de Primeiro Mundo. Não tem ‘QI’ (quem indica), não tem conta bancária. É uma das coisas mais equânimes que existem”, disse a este jornal o cirurgião-chefe do serviço de transplante de fígado do Hospital de Base de Rio Preto, Renato Ferreira da Silva.
De fato, no que concerne aos transplantes, o Brasil já é um país de Primeiro Mundo – e com resultados muito superiores aos de nações mais desenvolvidas. Existe aqui o maior programa público de transplante de órgãos e tecidos do mundo, um serviço público de altíssima complexidade que é oferecido de forma universal e gratuita por meio do SUS.
Sem dúvida, há pontos a serem aprimorados no SNT, sobretudo nos diagnósticos de morte encefálica e na captação de órgãos País afora – o que demanda investimentos. No entanto, o que mais parece faltar depende, em boa medida, da sociedade: o florescimento no País de uma cultura de doação de órgãos, ainda claudicante.
Comentário nosso
Temos na matéria uma prova da idoneidade do Sistema Nacional de Transplante. E o sistema será muito mais eficiente quando todo cidadão se tornar um doador. Quanto mais doadorees existirem no país, mais rápidos serão os transplantes e mais pessoas serão beneficiadas. E há um detalhe que muita gente esquece. Quando você doa seus órgãos, você ganha a possibilidade de continuar vivo através daquela pessoa que depois aproveitou o órgão que você doou. O cidadão cujo coração foi transplantado em Faustão vai ficar fazendo sucesso, enquanto Faustão for vivo. Ainda hoje, reafirmei a minha esposa o que já havia lhe dito mais de uma vez: “Quando seu morrer, se tiver algum pedaço que possa ser aproveitado, pode doá-lo. Será para mim o prazer de que ainda continuarei vivo em pelo menos um pedacinho de mim”. (LGLM)