Um debate necessário

By | 03/09/2023 7:16 am
Imagem ex-librisEncaminhado ao Congresso pelo governo Lula, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) 2024 prevê cerca de R$ 1 bilhão para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha. Objetivamente, o valor do chamado fundo eleitoral é alto. A rigor, sendo entidades privadas, partidos políticos não deveriam receber recursos públicos para custear suas atividades político-administrativas, tampouco suas campanhas eleitorais. Entretanto, o montante do previsto na proposta orçamentária é expressivamente menor do que os R$ 5,5 bilhões pretendidos pelos parlamentares, valor ainda maior do que os R$ 4,9 bilhões das eleições de 2022.

O que explicaria essa redução do fundo eleitoral proposta pelo Executivo? Das duas, uma: ou o Palácio do Planalto está de fato engajado em uma revisão das prioridades orçamentárias nacionais, tendo em vista as muitas necessidades nacionais – que demandam recursos públicos muito antes do que qualquer agremiação política –, ou o valor é um mero instrumento de negociação do Executivo com o Legislativo, a envolver outras alíneas da peça orçamentária. O tempo dirá.

O fato é que a história recente não autoriza nenhuma expectativa de que o Congresso não vai aumentar o valor do fundo eleitoral referente ao custeio das campanhas de candidatos a prefeito e vereador em 2024. Dois fenômenos complementares são bem conhecidos: o apetite voraz das legendas pelo aumento contínuo dos recursos públicos destinados ao seu funcionamento e a omissão das lideranças partidárias em buscar financiamento privado de pessoas físicas. Contentar-se com a generosa fonte pública de recursos é mais cômodo – e até agora se tem mostrado muito eficaz.

De toda forma, a proposta do governo a respeito do valor do fundo eleitoral 2024 suscita uma reflexão importante, que toda a sociedade precisa fazer. De um lado, os partidos políticos têm a responsabilidade de buscar fontes de financiamento compatíveis com sua natureza de entidades privadas. Não podem ficar dependentes do Estado. Têm o dever de dialogar com a sociedade, obtendo, assim, doações de pessoas alinhadas com suas ideias e propostas políticas. Sem esse engajamento, os partidos nunca serão capazes de realizar sua missão.

Por outro lado – e não menos importante –, cada eleitor deve buscar conhecer os partidos políticos, seu ideário, sua compreensão de mundo e suas propostas concretas para o País e, na medida do possível, ajudar a financiar o que considera positivo e benéfico. As legendas são fundamentais para o bom funcionamento do regime democrático, em concreto, para a qualidade da representação política. O distanciamento da população em relação aos partidos é sintoma de que algo não vai bem – e é preciso reagir.

O fundo eleitoral é uma excrescência que não deveria existir. Não apenas pelo custo fiscal, mas porque distancia os partidos da sociedade e faz com que o eleitor pense que o debate sobre financiamento dos partidos é mera questão de orçamento público, sem envolver e sem demandar o exercício pessoal dos direitos políticos.

Comentário

Category: Regionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *