(João Paulo Medeiros, no Pleno Poder, no Jornal da Paraíba, em 05/09/2023)
As últimas eleições para o Senado na Paraíba foram marcadas por derrotas acachapantes de lideranças políticas que, até então, eram consideradas ‘imbatíveis’. Foi assim com os ex-senadores Cássio Cunha Lima – que perdeu a cadeira em 2018 – e Ney Suassuna, não reeleito em 2006.
Mas a lista de derrotas é muito maior do que se imagina e ultrapassa os limites da redemocratização vivida nos anos 80.
As razões para os fracassos são muitas, mas entre as principais estão o distanciamento do eleitorado em um mandato de 8 anos; baixa produtividade, em alguns casos; e a agenda do Parlamento, que afasta os senadores do cotidiano público dos Estados.
Apesar de histórico, o tema é atualíssimo.
É que, para 2026, dois dos atuais senadores paraibanos, Veneziano Vital (MDB) e Daniella Ribeiro (PSD), são potenciais candidatos à reeleição.
Resgate histórico
Uma pesquisa feita pelo Blog junto ao banco de dados do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) mostra que, de 1945 até hoje, o Estado teve 27 senadores eleitos. Destes, apenas três conseguiram a façanha da reeleição.
Os reeleitos foram Rui Carneiro, Argemiro de Figueiredo e Humberto Lucena.
No caso de Rui ele foi eleito para o Senado em 1950. E depois conseguiu a reeleição em 1958, 1966 e 1974. Já Argemiro de Figueiredo foi eleito em 1954 e depois reeleito em 1962.
Os dois, registre-se, em momentos históricos bem diferentes do que temos hoje. Não havia o nível de informação e conscientização do eleitorado em torno do debate político; e parte dos mandatos de Rui aconteceu sob o Regime Militar, instaurado no país em 1964.
No caso de Humberto Lucena ele foi eleito pela primeira vez para o Senado em 1978. Em 1986, após o fim do período militar, voltou a conquistar uma das vagas. E já em 1994 foi mais uma vez reeleito. No Senado permaneceu até o seu falecimento, em 1998.
2026
A perspectiva em 2026 é de que dois dos atuais senadores paraibanos possam tentar derrubar mais uma vez o tabu da reeleição para a ‘Casa’.
No caso de Veneziano, o emedebista já decidiu que irá para a disputa. Daniella ainda não definiu se buscará manter a vaga ou se abdicará da cadeira para apoiar o seu filho, Lucas Ribeiro (Progressistas), caso ele venha a assumir o Governo.
Fato é que o caminho para reeleição seguirá sendo um enigma. Acertar o passo entre a ocupação de espaços importantes em Brasília e a participação nos debates locais, nos temas de interesse do Estado, pode ser uma saída para desvendá-lo.
Comentário nosso
Os três que conseguiram reeleição para o Senado eram políticos que na época dominavam os seus partidos e tinha as máquinas partidárias sob controle. Também tinham uma capacidade muito grande de nomeação para cargos públicos numa época em que não havia concurso público. Lembramos, por exemplo, que Humberto Lucena conseguiu a nomeação de milhares de funcionários dos Correios até 1988, quando o concurso público foi tornado obrigatório. Hoje quase todos aposentados, os antigos funcionários dos Correios não passaram por concurso público. No Banco do Brasil convivi com muitos colegas, nomeados por indicação de Ruy Carneiro e Argemiro de Figueiredo, na época em que ainda havia cargos no BB que não exigiam concurso público. Os cargos de senador eram reservados para os chefes de partidos, e na época os partidos eram poucos. Atualmente, além de serem inúmeros o partidos políticos, nenhum dos candidatos têm densidade estadual. E um detalhe. Muitos são eleitos “na garupa” de um candidato a governador e quando termina o mandato não têm mais garupa para levá-los, ao contrário, muitas vezes concorrem com um governador em final de mandato. Na próxima eleição, por exemplo, embora haja duas vagas para senador, hoje ocupadas por Daniela Ribeiro e Veneziano Vital do Rego, o atual governadorJoão Azevedo, já reeleito, é favorito para ocupar uma destas vagas, ficando a outra para uma disputa para a qual não se sabe se Daniela e Veneziano encararão. Ou seja, pelo menos um dos dois não será reeleito. (LGLM)