7 de Setembro parece ter perdido o encanto para a direita

By | 07/09/2023 12:16 pm

Celebração verde-amarela, que alimentou corações de bolsonaristas, muda de protagonista, saindo das mãos do ‘Capitão’ e passando para seu maior inimigo

 

(Sergio Denicoli, Blog Conectado, no Estadão, em

 

imageO resgate do patriotismo nostálgico, apoiado em uma ideia idealizada do período militar, entrou em um impasse. A principal festa verde-amarela, que alimentou os corações conservadores, mudou de protagonista, saindo das mãos do “Capitão” e passando para o seu maior inimigo. Isso frustrou os que, no governo anterior, aproveitavam o 7 de Setembro para lotar as ruas em apoio ao presidente. Para esses, a Independência do Brasil tinha um novo significado, que passava pela ideia de libertar o País da esquerda – o que viam como motivo de comemoração e reafirmação de suas ideologias.

Estudos feitos pela AP Exata, em 2022, mostram que os atos nas ruas no Dia da Independência naquele ano fizeram com que Bolsonaro atingisse 43% de menções positivas no Twitter, enquanto Lula registrou 33%.

As declarações de voto nas redes também beneficiaram o então presidente. No dia 7, Lula abarcava 38% dos votos declarados pelos internautas e Bolsonaro, 36,6%. Já no dia 8, a repercussão dos atos fez com que Bolsonaro ultrapassasse Lula, marcando 42,4% x 36,4%.
Congresso Nacional com iluminação com cores da bandeira do Brasil para o 7 de Setembro
Congresso Nacional com iluminação com cores da bandeira do Brasil para o 7 de Setembro Foto: Audiovisual / PR

Esse efeito pró-Bolsonaro, no entanto, durou pouco. Na altura, a esquerda alardeava pelas redes notícias sobre a alta dos preços dos alimentos, e o presidente perdeu a oportunidade de utilizar a atenção que despertou para falar para os que estavam sofrendo com a inflação. Reverberou um discurso autocentrado na figura de “imbroxável” e comunicou apenas para as bolhas de apoiadores, tornando a repercussão positiva das manifestações em algo efêmero. Em poucos dias, Lula voltaria a ter um protagonismo positivo nas redes, focando na ideia de que, com ele, o povo voltaria a comer picanha.

Este ano, com a esquerda novamente no poder, e com os militares sendo vistos pelos bolsonaristas com desconfiança, o 7 de Setembro parece ter perdido o encanto para a direita. Ela se recusa a participar da festa oficial, promovida pelo governo petista, e, desesperançada, também não se mobilizou para uma festa paralela. Optou por ressignificar o “fique em casa”, esperando que os atos cívico-militares do dia sejam um fracasso de público. Preparam uma invasão de fotos e imagens dos anos anteriores, buscando, novamente, o conforto do passado nostálgico.

Bolsonaro discursa a apoiadores no 7 de Setembro de 2021 em Brasília
Bolsonaro discursa a apoiadores no 7 de Setembro de 2021 em Brasília  Foto: Marcos Corrêa/PR
Lula, por sua vez, se mostra incumbido na tarefa de resgatar símbolos nacionais cooptados pelo movimento conservador. Não abre mão da parada do 7 de Setembro e da foto ao lado dos comandantes das Forças Armadas, mas está dissociado de um movimento patriótico popular. As comemorações da Independência ainda habitam a memória dos que acham que o País precisa superar o PT e a toda esquerda. Para o atual presidente, será mais um dia tentando se conectar a um País dividido, onde uma das partes não o enxerga como representante legítimo.

O blog analisou as publicações sobre Lula que também citam o 7 de Setembro. Os dados mostram que apenas 1,6% dos posts sobre o presidente, feitos às vésperas do Dia da Independência, se referem à data comemorativa. No ano passado, esse índice era de 10,4% de menções, em posts sobre Bolsonaro. Em 2021, o percentual era de 31,4%, sobretudo devido à polêmica do voto impresso, que foi uma das bandeiras dos atos.

Lula, portanto, será o anfitrião de uma festa que perdeu o aspecto político-ideológico dos últimos anos, para voltar a se transformar em um evento em comemoração à formação da Nação e aos que um dia decidiram separar o Brasil de Portugal. Sem novos significados, mas com todo peso institucional e regimental das solenidades protocolares.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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