Nada fora da lei. Justiça se faz com justiça
A Lava Jato já foi dada como morta muitas vezes. Começou a definhar com o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e a posse, em 31 de agosto de 2016, de Michel Temer (MDB), seu vice.
Bolsonaro se elegeu pegando carona no combate à corrupção, com a ajuda de Sergio Moro, que despiu a toga e assumiu o Ministério da Justiça. Foi quando a Lava Jato de fato começou a morrer.
A pá de cal foi jogada, ontem, pelo ministro Dias Toffoli, que considerou “imprestáveis” todas as provas obtidas pela Lava Jato mediante o acordo de leniência com a empreiteira Odebrecht.
Algo parecido aconteceu com a operação “Castelo de Areia”, de 2009, que investigou crimes financeiros praticados por executivos ligados à construtora Camargo Corrêa e acabou anulada.
Anular a Lava Jato não significa que não houve roubo, significa que ela serviu a um projeto político: o de condenar e manter Lula preso para que ele não disputasse as eleições de 2018.
Órfãos da Lava Jato começam a se perguntar:
A resposta é simples, embora insatisfatória para eles: a apuração de crimes deve levar em conta, antes de tudo, o estrito cumprimento da lei. Nada fora da lei. Justiça se faz com justiça.
Estarrecidos, órfãos da Lava Jato também partem para cima de Lula como se ele agora, só por ter sido eleito presidente pela terceira vez, acumulasse os Poderes Executivo e Judiciário:
“Por mais que Lula diga que quer reconciliar o país, não parece ser esse seu estado de espírito.”
Uma coisa nada tem a ver com a outra. Presidente da República não dita sentenças de tribunais. Por saber disso, Bolsonaro, aspirante a ditador, tentou lacrar a Justiça – sem sucesso.
Bolsonaro, Moro e Dallagnol estão do mesmo lado do balcão como suspeitos de crimes; Bolsonaro, inelegível, com medo de ser preso; Moro, ameaçado de perder o mandato de senador.
Vez por outra, aqui se faz e aqui se paga.
Comentário nosso
Com relação ao “enterro” da Lava-Jato vale a pena observar o seguinte. A decisão de Dias Tóffoli, descartando as decisões da Lava-Jatom, não significa que não houve crimes. Apenas quer dizer que os processos não foram realizados dentro do devido processo legal. Justiça não se faz com injustiça. Procuradores e juízes forçaram a barrar, para condenar, não só Lula, como políticos e empresários processados durante os últimos anos. Houve uma manobra mais importante que foi afastar Lula das disputas eleitorais de 2018 para permitir a eleição de Bolsonaro. Sem isso, Lula é que teria sido eleito presidente em 2018. E a coisa foi tão escandalosa que o juiz que condenou e afastou Lula recebeu o pagamento por isso. Foi nomeado ministro da Justiça por Bolsonaro com a promessa de depois ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal. Querem uma prova maior do que esta? Mas não basta anular as decisões tomadas até agora. Moro e Dallagnol devem pagar com todo o mal que praticaram. Falta Moro perder o mandato e os dois serem condenados pelo que fizeram não só a Lula como aos demais prejudicados. (LGLM)