O 7 de Setembro é de todos os brasileiros

By | 07/09/2023 6:41 am
Imagem ex-librisA celebração da Independência do Brasil não é simples comemoração de um evento histórico, mas deve ensejar a reafirmação dos valores que forjaram esta Nação soberana, em particular a defesa da igualdade, da liberdade e do regime democrático. Decisiva em momentos cruciais ao longo desses 201 anos de Brasil independente, a união em prol de valores comuns à nacionalidade pode e deve servir como guia para uma jornada futura mais auspiciosa para o País.

O 7 de Setembro deste ano é particularmente oportuno para essa reflexão. A sociedade tem o dever de resgatar o espírito cívico que sempre marcou a data; data esta que, nos últimos quatro anos, sofreu diversas tentativas de sequestro político por parte de Jair Bolsonaro. O ex-presidente não só deturpou o sentido do Dia da Independência, como tentou manipular o sentimento patriótico de milhões de brasileiros, com o objetivo de dar vazão a suas pretensões políticas pessoais.

Além de ter usado o feriado nacional para expor seu vezo golpista, Jair Bolsonaro amesquinhou a posição de chefe de Estado ao fazer proselitismo eleitoral em data cívica. Um dos processos que tramitam contra o ex-presidente no Tribunal Superior Eleitoral trata justamente de indícios de abuso de poder político e econômico, em razão de manipulação eleitoreira do feriado da Independência.

A desvirtuação do 7 de Setembro operada por Jair Bolsonaro teve um aspecto especialmente grave. Ela veio acompanhada de uma campanha de desinformação a respeito do papel das Forças Armadas no Estado Democrático de Direito. Mais de uma vez, Jair Bolsonaro usou o Dia da Independência para tentar subverter a natureza e a função do poder militar, que, no conto bolsonarista, seria uma espécie de contraponto ao poder civil, o tal “poder moderador”.

Felizmente, as Forças Armadas, enquanto instituições de Estado, mantiveram-se fiéis à Constituição, não sucumbindo a tão absurdo sofisma. No ano passado, por exemplo, diante do risco de manipulação do feriado cívico para fins eleitorais, o comandante militar do Leste cancelou a tradicional parada militar de 7 de Setembro, na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro.

A data não deve ser usada para fins político-eleitorais, muito menos para objetivos golpistas. Agora, superadas essas tentações trevosas, é tempo de reconstruir o espírito cívico, o que inclui reafirmar uma compreensão republicana e constitucional das Forças Armadas. Elas estão submetidas ao poder civil e devem estar distantes da política. Como disse, no início do ano, o comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva: “Se um militar quer ser político, que mude de profissão”.

Nesse sentido, são oportunas as atuais tratativas do Executivo e do Legislativo para a apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) restringindo a participação de militares em processos eleitorais. De acordo com a proposta, caso um militar pretenda concorrer a um cargo político eletivo, ele precisará deixar antes a carreira militar, entrando para a reserva.

Mais do que atiçar o passado recente – as instituições competentes, em suas várias esferas, já investigam os indícios de crimes no período –, agora é tempo de reconstruir o País. Um meio para essa tarefa é o resgate do espírito cívico. A identidade nacional não é dada por um determinado grupo partidário. É antes um patrimônio imaterial de todos os brasileiros, com independência de suas cores e preferências ideológicas. Afinal, as liberdades políticas não são mero discurso, e o pluralismo de ideias é um valor constitucional.

O 7 de Setembro é uma data de todos os brasileiros. Como dissemos a propósito da diretriz do governo Lula da Silva de “despolitizar” a celebração, “honrar a Independência é direito de todo o cidadão, assim como o de celebrar a festa nacional conforme seu sentido mais profundo: o de invenção do que se chama comumente de brasilidade” (ver editorial A volta do espírito cívico, de 23/8/2023).

Sem negar os muitos desafios pela frente, é tempo de celebrar o País e o regime democrático.

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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