Dados do “Education at a Glance 2023” mostram que 11% dos alunos do ensino médio entre 15 e 19 anos estão matriculados em programas profissionais, enquanto a média dos países-membros da OCDE é de 37%. Em gastos do governo por aluno, Brasil fica à frente apenas do México e da África do Sul, em ranking que inclui parceiros do grupo.
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No Brasil, o total de jovens matriculados na educação voltada para a formação profissional é inferior à média verificada entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) — um grupo de países que é referência em desenvolvimento humano e PIB per capita (produto interno bruto por habitante).
O ensino profissionalizante é apontado por especialistas como uma importante via de acesso a postos bem remunerados no mercado de trabalho (leia mais abaixo). Ainda assim, segundo os números divulgados nesta terça-feira (12) no relatório “Education at a Glance 2023”, a modalidade ainda é pouco representativa entre os jovens brasileiros:
- 📉 No Brasil: 11% dos alunos do ensino médio de 15 a 19 anos estão matriculados em programas profissionais (o percentual é o mesmo para jovens de 20 a 24 anos, que estão em cursos técnicos de institutos federais, por exemplo).
- 🌍 Nos países da OCDE: 37% dos alunos do ensino médio de 15 a 19 anos estão matriculados em programas profissionais. Na faixa etária de 20 a 24 anos, a taxa sobe para 65%.
A atual edição do estudo ainda destaca outros dados que colocam o Brasil ainda muito distante dos membros da OCDE: alta porcentagem de jovens ‘nem-nem’ e baixos investimentos do governo por aluno.
Veja abaixo:
🤷♀️‘Geração nem-nem’:
Considerando os jovens de 18 a 24 anos, 24,4% dos brasileiros não trabalham nem estudam. Entre os países da OCDE, o índice é bem menor: de 14,7%.
Segundo Priscila Cruz, presidente executiva da ONG Todos Pela Educação, é preciso reforçar que não são pessoas que “passam o dia olhando para o teto, mexendo em redes sociais”.
“Esses jovens tornam-se invisíveis, porque estão fazendo atividades domésticas, cuidando dos irmãos para que a mãe possa trabalhar ou desempenhando funções sem registro na carteira de trabalho”, afirma.
Ela ainda elenca outros dois motivos que levam os brasileiros a essa situação:
- evasão escolar, que é causada pela falta de vínculo com o colégio e pela crescente dificuldade de acompanhar o que é ensinado a cada ano;
- gravidez precoce, responsável por elevar ainda mais os números da geração ‘nem-nem’ entre as mulheres: 30%, em relação a 18,8% entre os homens.
💰Baixo investimento do governo por aluno:
O relatório mostra também quanto cada país investe, por aluno, em educação básica. O Brasil, com 3.583 dólares anuais (cerca de R$ 17,7 mil reais), é o terceiro pior do ranking entre membros da OCDE e parceiros: fica à frente apenas do México (2.702 dólares) e da África do Sul (3.085 dólares).
Os líderes são Luxemburgo (26.370 dólares), Suíça (17.333 dólares) e Bélgica (16.501 dólares).
“Falta dinheiro e falta boa gestão. Precisamos investir na formação continuada de professores, na alimentação escolar que dê ‘combustível’ para o cérebro das crianças, na conectividade nas escolas, na compra de materiais e na educação integral”, diz Priscila Cruz.
“A meta não deve ser gastar mais, e sim alocar corretamente [os recursos] no que vai gerar aprendizado. Precisamos de transporte, de escolas com biblioteca, teatro, sala de música e quadro. Não é só investir o que a OCDE investe.”
❗Ensino profissionalizante ainda é alvo de preconceito
Estudantes em curso profissionalizante fornecido pela Firjan — Foto: Vinícius Magalhães | Firjan
O relatório aponta que há um desafio mesmo entre os países com sistemas de ensino mais estruturados: fazer a integração da escola regular com a prática.
“Programas escolares e práticos combinados permanecem raros em muitos países. Em média, apenas 45% de todos os estudantes de educação profissionalizante do ensino médio superior estão matriculados em tais programas em toda a OCDE”, afirma o relatório.
Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, diz que existe um preconceito relacionado ao ensino técnico, como se ele significasse necessariamente “a linha de chegada” do aluno. Ele é apenas o primeiro passo para a profissionalização.
O próprio relatório da OCDE lembra que o Congresso Nacional brasileiro aprovou, em 2023, a Lei 14.645/2023, que estabelece que o Brasil precisa formular e implementar, dentro de dois anos, uma política nacional de educação profissional e tecnológica articulada com o Plano Nacional de Educação (PNE).
📚 O que é o relatório ‘Education at a Glance 2023’?
Divulgado anualmente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o relatório “Education at a Glance” reúne e compara os principais indicadores internacionais ligados à educação.
Os números mostram a realidade de quase 50 países, incluindo membros e parceiros da OCDE. O Brasil é um dos parceiros da organização. Os dados são fornecidos pelos próprios países e comparáveis em um mesmo ano (a entidade não indica comparações entre anos distintos, porque pode haver mudanças nas metodologias de cálculos).
Comentário nosso
O nosso problema tem origens múltiplas. Baixo investimento na educação de modo geral, o pouco dinheiro é mal aplicado e o ensino técnico é esnobado por grande parte da população. Resultado, grande evasão escolar em todos os níveis, profissionais formados para um mercado de trabalho já saturado e, em decorrência, muitos desempregados, e baixo rendimento de trabalhadores sem formação ou mal formados, que terminam comprometendo a produtividade das empresas, além da insatisfação de muitos trabalhadores pela frustração por se considerarem mal remunerados, justamente por serem mal preparados para o mercado de trabalho. (LGLM)