3º ‘pior país’ em investimentos por aluno e poucos jovens no ensino profissionalizante: por que o Brasil fica tão distante da OCDE (com comentário nosso)

By | 12/09/2023 4:29 pm

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No Brasil, o total de jovens matriculados na educação voltada para a formação profissional é inferior à média verificada entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) — um grupo de países que é referência em desenvolvimento humano e PIB per capita (produto interno bruto por habitante).

O ensino profissionalizante é apontado por especialistas como uma importante via de acesso a postos bem remunerados no mercado de trabalho (leia mais abaixo). Ainda assim, segundo os números divulgados nesta terça-feira (12) no relatório “Education at a Glance 2023”, a modalidade ainda é pouco representativa entre os jovens brasileiros:

  • 📉 No Brasil: 11% dos alunos do ensino médio de 15 a 19 anos estão matriculados em programas profissionais (o percentual é o mesmo para jovens de 20 a 24 anos, que estão em cursos técnicos de institutos federais, por exemplo).
  • 🌍 Nos países da OCDE: 37% dos alunos do ensino médio de 15 a 19 anos estão matriculados em programas profissionais. Na faixa etária de 20 a 24 anos, a taxa sobe para 65%.

A atual edição do estudo ainda destaca outros dados que colocam o Brasil ainda muito distante dos membros da OCDE: alta porcentagem de jovens ‘nem-nem’ e baixos investimentos do governo por aluno.

 

Veja abaixo:

🤷‍♀️‘Geração nem-nem’:

Considerando os jovens de 18 a 24 anos, 24,4% dos brasileiros não trabalham nem estudam. Entre os países da OCDE, o índice é bem menor: de 14,7%.

Segundo Priscila Cruz, presidente executiva da ONG Todos Pela Educação, é preciso reforçar que não são pessoas que “passam o dia olhando para o teto, mexendo em redes sociais”.

“Esses jovens tornam-se invisíveis, porque estão fazendo atividades domésticas, cuidando dos irmãos para que a mãe possa trabalhar ou desempenhando funções sem registro na carteira de trabalho”, afirma.

Ela ainda elenca outros dois motivos que levam os brasileiros a essa situação:

  • evasão escolar, que é causada pela falta de vínculo com o colégio e pela crescente dificuldade de acompanhar o que é ensinado a cada ano;
  • gravidez precoce, responsável por elevar ainda mais os números da geração ‘nem-nem’ entre as mulheres: 30%, em relação a 18,8% entre os homens.

 

💰Baixo investimento do governo por aluno:

O relatório mostra também quanto cada país investe, por aluno, em educação básica. O Brasil, com 3.583 dólares anuais (cerca de R$ 17,7 mil reais), é o terceiro pior do ranking entre membros da OCDE e parceiros: fica à frente apenas do México (2.702 dólares) e da África do Sul (3.085 dólares).

Os líderes são Luxemburgo (26.370 dólares), Suíça (17.333 dólares) e Bélgica (16.501 dólares).

“Falta dinheiro e falta boa gestão. Precisamos investir na formação continuada de professores, na alimentação escolar que dê ‘combustível’ para o cérebro das crianças, na conectividade nas escolas, na compra de materiais e na educação integral”, diz Priscila Cruz.

“A meta não deve ser gastar mais, e sim alocar corretamente [os recursos] no que vai gerar aprendizado. Precisamos de transporte, de escolas com biblioteca, teatro, sala de música e quadro. Não é só investir o que a OCDE investe.”

❗Ensino profissionalizante ainda é alvo de preconceito

 

Estudantes em curso profissionalizante fornecido pela Firjan — Foto: Vinícius Magalhães | Firjan

Estudantes em curso profissionalizante fornecido pela Firjan — Foto: Vinícius Magalhães | Firjan

O relatório aponta que há um desafio mesmo entre os países com sistemas de ensino mais estruturados: fazer a integração da escola regular com a prática.

“Programas escolares e práticos combinados permanecem raros em muitos países. Em média, apenas 45% de todos os estudantes de educação profissionalizante do ensino médio superior estão matriculados em tais programas em toda a OCDE”, afirma o relatório.

Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, diz que existe um preconceito relacionado ao ensino técnico, como se ele significasse necessariamente “a linha de chegada” do aluno. Ele é apenas o primeiro passo para a profissionalização.

“[O estudante] pode continuar se desenvolvendo depois. E precisamos romper com a ideia de que a educação técnica é para pobres que serão operários e que a universidade é para a elite. Essa divisão histórica permanece no imaginário dos brasileiros. Temos de entender que o ensino profissionalizante é uma estratégia de desenvolvimento. Existe demanda por jovens qualificados”, afirma.

O próprio relatório da OCDE lembra que o Congresso Nacional brasileiro aprovou, em 2023, a Lei 14.645/2023, que estabelece que o Brasil precisa formular e implementar, dentro de dois anos, uma política nacional de educação profissional e tecnológica articulada com o Plano Nacional de Educação (PNE).

📚 O que é o relatório ‘Education at a Glance 2023’?

Divulgado anualmente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o relatório “Education at a Glance” reúne e compara os principais indicadores internacionais ligados à educação.

Os números mostram a realidade de quase 50 países, incluindo membros e parceiros da OCDE. O Brasil é um dos parceiros da organização. Os dados são fornecidos pelos próprios países e comparáveis em um mesmo ano (a entidade não indica comparações entre anos distintos, porque pode haver mudanças nas metodologias de cálculos).

Comentário nosso

O nosso problema tem origens múltiplas. Baixo investimento na educação de modo geral, o pouco dinheiro é mal aplicado e o ensino técnico é esnobado por grande parte da população. Resultado, grande evasão escolar em todos os níveis, profissionais formados para um mercado de trabalho já saturado e, em decorrência, muitos desempregados, e baixo rendimento de trabalhadores sem formação ou mal formados, que terminam comprometendo a produtividade das empresas, além da insatisfação de muitos trabalhadores pela frustração por se considerarem mal remunerados, justamente por serem mal preparados para o mercado de trabalho. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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