Ministro da Educação disse que avanço é alarmante e prometeu maior regulação e supervisão da modalidade
A modalidade de ensino a distância já recebe 2 a cada 3 estudantes que ingressam no ensino superior no Brasil. Dos 4,7 milhões que começaram cursos de graduação em 2022, mais de 3,1 milhões foram para a modalidade a distância.
Os dados são do Censo do Ensino Superior de 2022, divulgados nesta terça-feira (10) pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
O ministro da Educação, Camilo Santana, classificou como “alarmante e desafiador” o cenário de domínio dos cursos a distância no país.
A primeira vez que a modalidade a distância superou a presencial em número de ingressantes foi em 2020, primeiro ano da crise sanitária causada pelo Covid-19. Naquele ano, os ingressantes em cursos EAD representavam 53% do total. Em 2022, essa proporção subiu para 65%.
Depois de ter perdido ingressantes durante a pandemia, os cursos presenciais voltaram a registrar alta no ano passado, mas ainda não voltaram ao patamar de antes da crise sanitária. Segundo o censo, em 2022, esses cursos tiveram a entrada de 1.656.172 novos alunos —em 2019, eram 2 milhões.
Santana disse que o ministério tem preocupação com a qualidade do ensino ofertado pela modalidade a distância, por isso, fará uma discussão sobre a política atual que permitiu a explosão desses cursos.
O ministro destacou especial temor com a formação de professores em licenciaturas a distância, já que hoje elas reúnem 81% dos que ingressam nesses cursos. No fim de setembro, Santana já havia afirmado que não acredita ser possível formar a distância docentes com qualidade para atuar nas escolas.
“Não estou dizendo que a modalidade não funciona, mas é impossível formar bons profissionais em determinados cursos a distância. É o caso das licenciaturas. Precisamos com urgência rever a regulação desses cursos, porque são esses professores que estão chegando às escolas”, disse o ministro.
Dos 789.115 ingressantes em licenciaturas em 2022, mais de 650 mil foram para instituições de ensino privadas, sendo que 93,7% deles optaram por cursos a distância nessas faculdades.
Santana disse que o MEC vai ser mais rigoroso com a supervisão dos cursos a distância. Também anunciou que será feita uma reavaliação de cursos que podem ser ofertados na modalidade e revisão da carga horária presencial.
Informou ainda que foi suspenso o debate para liberar a abertura de cursos de psicologia, enfermagem, odontologia e direito a distância.
Os cursos de graduação a distância surgiram no país nos anos 2000. O ritmo de expansão dessa modalidade aumentou a partir de 2018, impulsionado por um decreto do governo Michel Temer (MDB) que flexibilizou a aberturas de polos de educação a distância.
Segundo o Censo, o número de cursos na modalidade aumentou 700% no país nos últimos dez anos, saindo de 1.148 em 2012 para 9.186 no ano passado.
O Censo não traz dados sobre a qualidade dos cursos de graduação, porém algumas informações dão indicativo importante sobre a oferta do ensino.
Nas universidades públicas, as graduações presenciais têm uma proporção de 11 alunos por professor. Nas faculdades particulares, são 22 alunos por professor.
Já nos cursos a distância na rede pública, a proporção passa para 34 alunos por professor. Na rede privada, a modalidade tem uma média de 171 estudantes para cada professor.
“Não estamos demonizando o ensino a distância, mas precisamos prezar pela qualidade do nosso ensino superior. Estamos muito preocupados”, disse o ministro.
Celso Niskier, diretor presidente da Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior), disse que a modalidade a distância tem permitido a democratização do ensino superior no país. Para ele, é possível elaborar políticas para melhorar a qualidade desses cursos.
“Nós conseguimos vencer a batalha da quantidade, agora nos cabe lutar pela qualidade do EAD”, disse.
Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior), afirmou que a ampliação dos cursos a distância é reflexo da ausência de uma política nacional de acesso ao ensino superior nos últimos, especialmente com a redução de programas como o ProUni e Fies.
“O EAD cresce porque o Brasil não tem uma política de acesso ao ensino superior. Hoje, 80% das vagas ofertadas estão na rede privada e 90% de quem sai do ensino médio tem uma renda familiar de até três salários mínimos. A maioria dos estudantes não consegue entrar na rede pública, que é super competitiva, e não tem dinheiro nem um programa de auxílio para pagar uma faculdade privada. O EAD que é muito mais barato acaba sendo a opção.”
Segundo os dados do censo, o número de alunos beneficiados pelo ProUni e Fies em 2022 foi o menor nos últimos dez anos. O Fies, que chegou a atender mais de 1,3 milhão de estudantes, tinha no ano passado só 167.895 matriculados.
O ProUni atendeu no ano passado 451.299 estudantes —em 2019, o programa beneficiou mais de 615 mil estudantes.
Santana afirmou que o MEC também estuda mudanças nas regras desses dois programas, mas não deu detalhes das alterações estudadas.
Comentário nosso
Quem me chamou a atenção para esta matéria foi um leitor meu. Absurdo dos absurdos o que nela se relata. Vou reproduzir dois tópicos que você deve lido acima: “Santana (o ministro da Educação) disse que o MEC vai ser mais rigoroso com a supervisão dos cursos a distância. Também anunciou que será feita uma reavaliação de cursos que podem ser ofertados na modalidade e revisão da carga horária presencial. Informou ainda que foi suspenso o debate para liberar a abertura de cursos de psicologia, enfermagem, odontologia e direito a distância.” Determinadas atividades você só aprende se você for praticando a medida que ouve a teoria. Já imaginou um dentista que só aprendeu lendo como se faz, sem nunca ver ninguém fazendo. Uma enfermeira fazendo curativos, sem nunca ter visto alguém fazendo. É o que acontece nestes cursos à distância. Os alunos tem pouquíssimas aulas práticas. Se nas escolas que mostram, ao mesmo tempo, a teoria e a prática, se formam um monte de charlatães, imagine numa escola que o aluno nunca viu de perto alguém executando aquelas atividades. Isto é altamente preocupante, como é preocupante a enxurrada de faculdades de medicina particulares existentes em todo o país. Será que uma faculdade de medicina que cobra doze mil reais de mensalidade vai reprovar um aluno, para o pai tirá-lo da escola? Quem frequenta postos médicos em Patos conta “maravilhas” de alguns profissionais de Medicinaa formados em escolas particulares. Eu conheço excelente profissionais de medicina formados em faculdades particulares, mas é um percentual muito menor do que os profissionais “feitos nas coxas”. São casos raros de alunos que se interessarem, que procuraram fazer estágios, que se submeteram a seleção para fazerem “residência” e que queriam realmente aprender. Mas tem muita gente que só em quanto dinheiro vai ganhar como médico. Tenho um amigo empresário em João Pessoa, cujo filho terminou engenharia numa escola pública, mas o pai o inscreveu depois numa faculdade particular de medicina, dizendo que como médico o filho ia ganhar muito mais dinheiro. Ninguém se admire se os futuros pacientes, ao serem atendidos por um médico passarem a perguntar onde eles se formaram. Os formados em faculdades públicas já são hoje mais renomados do que os formados em faculdades particulares. Nos anúncios de médicos hoje é cada vez mais comum os profissionais informarem em que universidade se formaram e que residência e especialização fizeram. Antigamente o médico só dizia que era ginecologista, clínico geral, cirurgião, pediatra, urologista, cardiologista, oncologista, traumatologista, sem se preocupar em dizer onde haviam terminado o seu curso. A matéria chama a atenção para os cursos de longa distância, onde a prática da profissão é mínima. Quem sai destas faculdades no máximo vai tentar saber o que você sente e indicar que profissional pode curá-lo. E muitos vão olhar num “tablet” ou perguntar a um parente médico o que dizer ao paciente. Que saudade dos antigos farmacêuticos, de formação ou de prática, melhores que muitos médicos de hoje. E assim são os engenheiros, os advogados, os economistas e quantas profissões existam. Não se fazem mais profissionais como antigamente. Aliás, temos que reconhecer que as faculdades “pagou passou”. Há uns cinquenta anos atrás, havia uma famosa escola de Direito em Caruaru, onde os alunos só iam fazer a provas e ninguém sabe lá como. Mas um dos melhores advogados da nossa região. Mas, primeiro, ele tinha uma mente privilegiada, com excelente formação intelectual. Segundo ele era um estudante tão dedicado que corrigia os professores. (LGLM)