O humanismo seletivo da esquerda

By | 13/10/2023 7:09 am

Para partidos de esquerda, a julgar por suas notas a respeito do ataque terrorista do Hamas contra civis de Israel, a vida dos que habitam países tidos como imperialistas não vale nada

 

Imagem ex-librisEsquerdistas gostam de se dizer humanistas, em contraste com uma suposta indiferença dos liberais em relação à vida dos mais pobres ou das minorias. A julgar pelas reações de partidos brasileiros de esquerda ao recente massacre bárbaro de civis israelenses por terroristas palestinos, no entanto, o “humanismo” dessa turma merece muitas aspas, pois só são humanos dignos de sua consideração aqueles cuja causa lhe serve. Nesse humanismo instrumental, a vida dos que habitam países tidos como imperialistas ou inimigos da classe trabalhadora não vale nada, e se vier a ser eliminada, terá sido porque, de alguma forma, essas pessoas nem mereciam viver.

Tome-se o exemplo do PSOL, partido nanico que ganhou alguma relevância porque tem entre seus quadros o atual favorito para ganhar a eleição para a Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos. Em sua nota oficial sobre o assunto, o partido, esse colosso do humanismo com aspas, foi, previsivelmente, incapaz de mencionar que se trata de terrorismo e de citar a brutalidade da ação contra inocentes. Em vez disso, a nota serve exclusivamente para criticar o “apartheid sionista de Israel”, para manifestar “preocupação” com a reação israelense e para “lamentar” a ajuda dos Estados Unidos a Israel neste momento. É o cardápio completo: a culpa é de Israel, que não tem o direito de reagir, e dos Estados Unidos, que investem naquele que é o agressor em qualquer circunstância.

Já a nota do igualmente nanico PCdoB consegue ser ainda mais cínica. O texto começa criticando não o ataque do Hamas, mas a reação de Israel “contra a Palestina”, e qualifica a carnificina dos palestinos contra inocentes em Israel como “contra-ataque”, praticamente legitimando o terrorismo. Para piorar, a nota diz que a ação do Hamas “atingiu áreas civis e militares”. Ora, quase nenhuma área militar foi afetada. O objetivo dos terroristas, hoje está claro, era exclusivamente atingir civis. Ou seja, a nota do PCdoB, fiel ao stalinismo que anima o partido, não tem nenhum compromisso com a verdade dos fatos.

Do PT, já falamos neste espaço. Relembrando: enquanto o presidente Lula da Silva chamava os terroristas de terroristas, seu partido emitia uma nota em que se mostrou incapaz de qualificar o agressor e o agredido, limitando-se a expressar “preocupação com a escalada de violência envolvendo palestinos e israelenses”. Na única concessão ao fato de que centenas de inocentes haviam sido cruelmente violentados e assassinados pelo Hamas, a nota do PT menciona que houve “diversas vítimas civis, incluindo crianças e idosos”, mas não teve a decência de dizer que se tratava de civis de Israel.

Disso se conclui que, para os partidos de esquerda brasileiros, os israelenses não têm o direito nem sequer de chorar seus mortos, pois eles não existem. Sofram o que sofrerem, os israelenses serão sempre os algozes, a padecer das consequências de sua natureza maléfica; já os palestinos, façam o que fizerem, serão sempre as vítimas, cujas ações, por mais torpes que sejam, serão sempre qualificadas como legítimas ante a opressão israelense.

A bem da verdade, os palestinos sempre foram irrelevantes nessa equação dos partidos de esquerda brasileiros. São usados como meros pretextos para demonizar os Estados Unidos e seus aliados, contra os quais vale tudo, inclusive degolar crianças. Para essa turma, é irrelevante a causa de quem luta contra Israel, pois o mais importante é a luta em si e a consequente obliteração de Israel.

Fossem verdadeiros humanistas, esses esquerdistas se revoltariam não só com o terrorismo do Hamas, mas também com a perseguição da China aos muçulmanos uigures ou com a recente limpeza étnica dos armênios em Nagorno-Karabakh. Sobre essas desumanidades e sobre tantas outras, os humanistas com aspas nada têm a dizer, pois não envolvem nem os Estados Unidos nem Israel.

Que as autoridades brasileiras, que integram um governo dito de esquerda, tenham a decência de se distanciar dessa perversa visão de mundo. A determinação constitucional da defesa dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana não seleciona quem merece e quem não merece tê-los.

Comentário

Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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