Eles podem ser uma ferramenta de aprendizagem, mas por ora têm prejudicado o ensino e a sociabilidade. Até que pais, diretores e professores pactuem o bom uso, é prudente restringi-los
Evidências do mundo inteiro comprovam uma epidemia de transtornos mentais entre jovens na última década, quando o uso de smartphones se tornou massivo e rotineiro, especialmente de depressão e ansiedade, com taxas crescentes de lesões autoinfligidas e suicídios. Estudos trazem indícios robustos de uma relação causal com o uso abusivo de mídias sociais. As redes estimulam um comportamento performático e uma preocupação obsessiva com a imagem corporal e a popularidade, e adolescentes são especialmente sensíveis ao julgamento de amigos e da multidão digital. As meninas, um grupo no qual a escalada de desordens emocionais é mais acentuada, parecem mais vulneráveis.
Já a relação entre transtornos mentais e o tempo de tela é menos clara. Mas, nas escolas, tudo indica que os smartphones são um fator de intensa distração, prejudicando o desempenho acadêmico, as relações sociais e os laços de pertencimento. Como disse a professora do MIT Sherry Turkle em seu livro Reclaiming Conversation, por causa de nossos smartphones “estamos sempre em outro lugar”. Para o psicólogo social Jonathan Haidt, “se queremos que nossas crianças estejam presentes, aprendam bem, façam amigos e sintam que pertencem à escola, devemos manter os smartphones e as redes sociais fora da rotina escolar tanto quanto possível”.
Segundo um relatório da Unesco, um em quatro países introduziu restrições totais ou parciais a smartphones nas escolas. Na França eles foram banidos, exceto para usos estritamente pedagógicos. Estudos na Bélgica, Espanha e Reino Unido revelaram melhoras nos resultados educacionais após a remoção.
Há dificuldades de implementação, a começar por uma mentalidade hiperprotetiva dos pais, que querem garantir a possibilidade de entrar em contato com seus filhos a qualquer momento. Superar esse problema depende da capacidade das escolas de sedimentar relações de confiança e conscientizar os pais de que um período de seis horas sem contato será benéfico para o desenvolvimento das crianças.
Depois, há os graus de restrições. Proibir os alunos de utilizar os dispositivos nas aulas, mas permitir que os mantenham em seus bolsos ou mochilas, obriga os professores a realizar um policiamento contraproducente para flagrar aqueles que burlam as regras. Proibir a entrada com celular na sala de aula, mas permitir o uso nos momentos de recreação pode fazer com que os alunos tentem compensar o tempo perdido, prejudicando sua interação social. Por isso, muitas escolas exigem que os dispositivos sejam guardados em armários.
O risco é jogar fora o bebê com a água do banho e desperdiçar oportunidades educacionais das novas tecnologias. Numa classe com dezenas de estudantes, dificilmente os professores conseguem adaptar o ensino às necessidades e graus de aprendizagem de cada aluno. Mas há aplicativos que conseguem. A Unesco defende o uso de celular nas escolas desde que sirvam claramente de apoio ao ensino. A tecnologia pode ajudar a resolver o problema que ela mesma criou, desenvolvendo aplicativos que façam essa filtragem e reforcem o controle de pais e professores.
Por ora, os custos da disponibilização dos smartphones parecem superar seus ganhos, e a prudência recomenda a maior restrição possível. É crucial que pais, professores e diretores cooperem para traçar e implementar os limites apropriados. “Manter as necessidades do estudante em primeiro lugar e apoiar os professores”, nas palavras da diretora da Unesco, Audrey Azoulay, deve ser o princípio dessa cooperação. Sobretudo, é preciso ter claro que “conexões online não substituem a interação humana”.