Hora e vez da caatinga

By | 29/10/2023 10:18 am

Estudo prevê impacto grave da mudança climática sobre o semiárido brasileiro

 

(Opinião da Folha, em 28/10/2023)

 

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Brejo da Caatinga, na bacia do Rio Salitre (BA), em processo de desertificação – Camilo Lobo

O debate público sobre ambiente no Brasil sempre foi monopolizado pelo desmatamento na Amazônia. A custo entrou em pauta o cerrado, hoje o domínio mais ameaçado. Mas precisamos falar também da caatinga, muito pressionada.

No semiárido nordestino se encontra o único bioma exclusivamente brasileiro. O Nordeste abriga a segunda maior população do país, metade em condição de pobreza. Secas e ondas de calor podem lhe causar ainda muito sofrimento e baixa na qualidade de vida.

Não é apenas o El Niño deste ano que augura uma estiagem grave. A mudança climática no planeta vai além dessa perturbação nas águas do Pacífico e apanha um sertão nordestino vulnerável.

Uma desertificação da região não será desastrosa só para pequenos mamíferos da caatinga, como prediz a pesquisa. A onipresença de caprinos dá boa ideia da importância para a segurança alimentar e a cultura dos sertanejos dessa criação que pasteja livre pelo bioma.

Um incremento na perda de cobertura vegetal, acompanhada da homogeneização (poucas espécies) prevista pelos especialistas, trará impacto difícil de avaliar. A ele se somaria um processo de desmatamento já em aceleração, realimentando o vetor de aridificação.

A banda oeste da caatinga, na zona de transição para o cerrado, tem sido um escoadouro da expansão do agronegócio na área conhecida como Matopiba. Sob sua influência, o desmate quase dobrou entre 2020 (683 km2) e 2021 (1.159 km2), segundo o projeto MapBiomas.

Secas mais fortes, frequentes e prolongadas viriam engrossar a migração regional para os já problemáticos grandes centros urbanos do Nordeste. Sem chuvas, milhões de cisternas ficarão vazias, e a transposição do São Francisco não dará conta de matar a sede da gente e do gado e ainda sustentar a irrigação.

Compete ao governo federal, em parceria com os estaduais, atuar em duas frentes para evitar o pior impacto: de um lado, conter a destruição da caatinga; de outro, implementar programas para adaptar população e infraestrutura à mudança climática já contratada.

editoriais@grupofolha.com.br

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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