Dia de Finados

By | 02/11/2023 4:06 pm

 

(Um poema de João Batista de Siqueira “Cancão”)

Raiou o dia, um soluço

Se espalhava choroso

Era o vento pesaroso

Que soluçava convulso

O sol focava debruço

Nas janelas do levante

O céu, um manto brilhante

Cravejado de cristais

Denunciava os sinais

De um dia emocionante

O sol brilhante surgia

Como um disco luminoso

O sino, triste e choroso

Penosamente batia

A branda aragem tangia

Suas notas sonolentas

As quais ecoavam lentas

Amedrontando as corujas

Por entre as paredes sujas

Das catacumbas cinzentas

O cemitério de abria

Por entre feixes de luzes

Capelas por sobre cruzes

Em toda parte se via

Só mesmo o vento bulia

As flores recém-abertas

As borboletas incertas

Esvoaçavam constantes

Pelos rosais verdejantes

Das sepulturas desertas

Cruzes erguidas aos pares

Uma ou outra vela acesa

Davam profunda tristeza

Aos brancos véus tumulares

Os sepulcros seculares

Pareciam pensativa

Onde os espíritos cativos

Pediam, por compaixão

Uma pequena oração

Do mundo ingrato dos vivos

Ouvia-se a todo momento

Pelos túmulos solitários

O tilintar dos rosários

Ao brando sopro do vento

Algum jazigo cinzento

Cobertos de aranhóis

Nos parecia lençóis

Pelos tempos nodoados

Em muitas partes, queimados

Das ardentias dos sóis

Depois mansamente um hino

Em meia-voz entoavam

Suas notas se casavam

Ao som choroso do sino

Lá, no recanto, um menino

Lembrava o pai que perdeu

Lia no jazigo seu

Com todo esclarecimento

A data do nascimento

E o dia em que faleceu

Enquanto os ventos sopravam

Nas sinistras sepulturas

Das catacumbas escuras

Alguns morcegos voavam

Os marimbondos chegavam

Do telhado das pedreiras

Em procuras das carneiras

Onde fizeram moradas

Entre as casas penduradas

Nos recantos das caveiras

O filho lembrava aquele

Que o criou com carinho

Se ajoelhava pertinho

Da cruz do jazigo dele

Pedia a Jesus por ele

No mais doloroso ‘ai’

Dizendo ‘Cristo, mandai

Remédio ao meu sofrimento

Que o filho de sentimento

Respeita os ossos do pai’

Via-se em cada rosto

Um triste desolamento

Os sinais de um sentimento,

As histórias de um desgosto

Cada qual fazia encosto

Nos sepulcros carcomidos

Lembrando os entes queridos

Pai, mãe, irmã, irmão

Que entre as cinzas do chão

Foram desaparecidos

A brisa fresca e macia

Que vinha lá do oásis

Passava dizendo frases

Que só Jesus entendia

Parecia que dizia

Coisas de quem já morreu

Pelo balbuciar seu

Mostrava nas sepulturas

Vestígios das criaturas

Que a terra ingrata comeu

Quem olhasse o cemitério

Nesse momento tristonho

Va a aparência de um sonho

Onde reinava um mistério

Tão lutuoso e funéreo

Na contínua solidão

Talvez nessa ocasião

Os nossos entes amados,

Lembrando os gratos passados,

Chorassem no pó do chão

Vamos deixar o rancor

E viver sem ambição

Colocar no coração

Só pensamentos de amor

Orar com todo fervor

Desejando sempre o bem

Não odiar a ninguém

Pedir a Deus boa sorte

E esperar pela morte

Que com certeza ela vem

João Batista de Siqueira “Cancão”

 

Fonte: “Palavras ao Plenilúnio”, JÚNIOR, Lindoaldo V. Campos, Editora Universitária, pags 225 a 228.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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