A natureza de Lula (com comentário nosso)

By | 04/11/2023 6:20 am

Sempre que teve de escolher entre a responsabilidade e a popularidade, Lula nunca titubeou. Haddad é o sacrificado da vez no altar do populismo lulopetista, outros certamente virão

Imagem ex-librisOs exegetas de Lula estão tendo trabalho dobrado desde o dia 27/10, quando o presidente resolveu queimar seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e dizer que a meta de déficit nas contas públicas “não precisa ser zero”. Ruim de conta, mas bom de lábia, o petista argumentou: “E se o Brasil tiver déficit de 0,5%, de 0,25%, o que é? Nada”.

Houve quem dissesse que Lula apenas reconheceu a realidade. Houve quem sugerisse que Lula quis ajudar Haddad ao livrá-lo do fardo de ter que reconhecer essa realidade. Houve quem atribuísse a fala de Lula aos tropeços do improviso. E houve também quem considerasse que Lula foi, na verdade, apenas ingênuo, como se ele ou não soubesse o que estava falando ou não fosse capaz de perceber a mancada. Ou seja, há interpretações para todos os gostos, todas dependentes de boa vontade.

A coisa toda, no entanto, é muito mais simples: Lula da Silva funciona permanentemente no modo eleitoral. É como sua segunda pele. Tudo o que diz e faz está diretamente relacionado a esse mister. Isso significa que Lula, no momento em que se observa queda de sua popularidade, perda de confiança de consumidores e empresários e uma notável dificuldade de articulação no Congresso, percebeu que tinha de virar a chave de seu governo.

Durante dez meses, o ministro Haddad vendeu a fantasia do controle das contas públicas e se impôs a ousada meta de déficit zero, sinalizando disposição de pelo menos tentar fazer a coisa certa, ainda que pela via de aumento de receitas, e não do corte de despesas. Mas Lula não quis nem isso: mesmo estando em começo de governo, momento ideal para propor sacrifícios, aproveitando a legitimidade conferida pelas urnas, o presidente refugou. Nenhuma surpresa: sempre que teve de escolher entre a responsabilidade e a popularidade, Lula nunca titubeou. Haddad é o sacrificado da vez no altar do populismo lulopetista, e outros certamente virão. Ao contrário do que pensam os exegetas de Lula, o presidente não é sincero nem ingênuo – é apenas calculista.

E nesse cálculo não cabem nem respeito aos limites fiscais nem preocupação com a sustentabilidade da política econômica, como ficou claro desde o segundo mandato de Lula e cujo estado da arte foi o desastre de Dilma Rousseff – aquela que disse que “gasto é vida” e que classificou de “rudimentar” o projeto de zerar o déficit nominal, proposto pela equipe econômica do primeiro mandato de Lula. Como se vê, não é de hoje que o lulopetismo sabota os que tentam impor racionalidade no manejo do dinheiro do contribuinte.

E o inimigo também permanece o mesmo: o mercado. “Eu acho que muitas vezes o mercado é ganancioso demais e fica cobrando a meta que eles acreditam que vai ser cumprida”, disse Lula, ignorando o fato de que questionar o déficit zero significaria comprometer a meta proposta por seu próprio ministro da Fazenda e o clima favorável para a redução dos juros pelo Banco Central.

A bem da verdade, o discurso do petista foi apenas a reiteração do que ele havia proferido há um ano, ainda no período de transição de governo, com críticas ao finado teto de gastos e à inexistência de um regime de metas de crescimento, em contraponto ao de metas de inflação.

É um discurso inaceitável para um presidente da República, que deveria saber da importância da estabilidade econômica para o País. Não é preciso ir longe para imaginar as consequências da gastança desenfreada na economia. Somente agora o País começou a colher os frutos da desaceleração da inflação após a pandemia de covid-19 – e nem todo o dinheiro que Jair Bolsonaro injetou na economia foi capaz de reelegê-lo.

Sem uma âncora crível, a inflação voltará a subir e os juros também, não por capricho do mercado, mas porque a necessidade de financiamento da dívida pública exige um altíssimo patamar de juros. Eis a importância de buscar atingir o déficit fiscal zero: sinalizar um limite, ainda que frouxo, para o avanço do endividamento. E se Lula ignora essas condições, não é por desconhecimento ou amor à democracia, mas por apego ao poder.

Comentário nosso

Nada contra a idade. Afinal não sou mais menino. Mas apesar do presidente americano Joe Biden ser mais velho do que Lula e eu três anos e ainda pretender a reeleição, acho que está na hora de Lula se aposentar e deixar de se preocupar com uma pretensa reeleição. Ao invés de estar queimando Haddad, muito mais novo e mais preparado, ele devia ficar “na dele”, pensar mais no Brasil e menos em si, que já cumpriu sua missão. A não ser que esteja reservando a vaga de candidato para Janja, aparentemente muito mais lúcida do que ele. É hora de Lula se preocupar mais com fazer o melhor para o Brasil, para a população, do que ficar pensando em popularidade e em futuras candidaturas. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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