A dura derrota de Bolsonaro em sua articulação para inviabilizar a reforma tributária

By | 10/11/2023 9:50 am

Ex-presidente descobriu que sem a caneta Bic que distribui cargos e verbas não tem o mesmo poder de persuasão diante de antigos aliados

Foto do autor: Ricardo CorrêaSentindo um cheiro de derrota do governo no ar, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi a campo para tentar arrancar os últimos votos necessários para enterrar a reforma tributária no Senado. Acabou levando para si uma derrota amarga com a qual descobriu que, fora do governo, sua capacidade de mobilização e convencimento não é a mesma de quando tinha a poderosa caneta Bic na mão. A aprovação do texto entre os senadores contou com votos de diversos ex-bolsonaristas, incluindo os que ignoraram os apelos do ex-presidente para mudar de lado na reta final.

Nenhum caso ficou tão exposto como o do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), flagrado pelo Estadão recebendo uma mensagem de Bolsonaro. O Contato “JMB”, a quem ele chamou de “presidente”, disse que ele era decisivo para derrotar a reforma tributária. Na resposta, o senador tentou afagar ao máximo Bolsonaro. Disse que tem sofrido com o ex-presidente estando distante, que “esse povo não é o nosso povo”, que está triste e com atuação apagada e que não vê a hora da gente (o bolsonarismo) voltar”. Agradeceu a atenção e consideração, mas respondeu que já tinha empenhado sua palavra para votar a favor da reforma. Um contrariado Bolsonaro respondeu apenas com um emoji do polegar fazendo um ‘joia’.

Pelo celular, Nelsinho Trad recebeu pedido de Bolsonaro para votar contra a reforma tributária, mas avisou que votaria a favor do texto
Pelo celular, Nelsinho Trad recebeu pedido de Bolsonaro para votar contra a reforma tributária, mas avisou que votaria a favor do texto Foto: Wilton Junior/Estadão

Apesar de só o caso de Trad ter sido flagrado, ele naturalmente não foi o único a ser procurado. E até houve quem tenha mudado de ideia incentivado por Bolsonaro. Veja o caso de Tereza Cristina (PP-MS), que celebrou que a reforma tenha passado na CCJ com apoio do PP e, um dia depois, no plenário, votou contrariamente, com o argumento de que o texto final piorou.

Mas muitos foram os que não arredaram pé do apoio a uma proposta discutida e defendida há décadas, inclusive por auxiliares de Bolsonaro. O caso de Ciro Nogueira (PI), ex-ministro-chefe da Casa Civil no antigo governo, é um exemplo sólido. O presidente do PP, que vive nas redes bombardeando o governo Lula mas que, nos bastidores, vê seu partido se alinhar em troca de ministérios e da Caixa Econômica Federal, votou sim para a proposta da reforma, apesar dos apelos do ex-chefe.

Também o ex-líder do governo Bolsonaro no Congresso, Eduardo Gomes (TO), mesmo sendo do PL, partido do ex-presidente, votou a favor da reforma defendida pelo governo Lula. A quem tentou convencê-lo a mudar de ideia, incluindo o próprio Bolsonaro, argumentou que sempre trabalhou pela reforma, inclusive quando estava no antigo governo. Por essa lógica, quem pulou do barco foi Bolsonaro e não ele.

Jair Bolsonaro até tentou, mas não conseguiu derrubar a aprovação da reforma tributária, que contou com votos de antigos aliados dele
Jair Bolsonaro até tentou, mas não conseguiu derrubar a aprovação da reforma tributária, que contou com votos de antigos aliados dele Foto: Luiz Santana/ALMG
Não apenas bolsonaristas ainda convictos, mas também ex-bolsonaristas engrossaram os votos pela reforma tributária. A lista inclui Vanderlan Cardoso (PSD-GO), um dos primeiros ex-aliados do capitão a abraçar Lula; Jayme Campos (União-MT), que já vinha se afastado desde que passou a defender que a inelegibilidade aplicada pelo TSE ao ex-presidente deveria ser respeitada; e Zequinha Marinho (Podemos-PA), que precisou sair do PL após votar a favor da MP da Reestruturação dos Ministérios.Também votaram a favor: Daniella Ribeiro (PSD-PB), cujo grupo e família participaram do governo Bolsonaro, e que chegou a ser cotada para um ministério na antiga gestão; Efraim Filho, que continuou fiel ao bolsonarismo na eleição do ano passado; Laércio Oliveira (PP-SE), que indicou um aliado na gestão bolsonarista; Professora Dorinha (União-TO), uma das que foi ao Palácio da Alvorada tirar foto ao lado de Bolsonaro para anunciar apoio segundo turno da eleição, mas que virou vice-líder de Lula em março; e Carlos Viana (Podemos-MG), ex-candidato ao governo de Minas com apoio (ao menos formal) do ex-presidente e que perdeu o contato com ele após perceber que teve sua eleição sabotada.

A derrota que se completou no Senado já tinha sido construída também na Câmara, quando Bolsonaro bradou contra a reforma e constrangeu o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado mais poderoso atualmente, durante um evento do PL. Na ocasião, o próprio Bolsonaro reconheceu ter errado no posicionamento público. Agora, porém, com Tarcísio, Romeu Zema (Novo) e outros governadores aliados em silêncio, o ex-presidente encampou uma missão inglória nos bastidores e perdeu novamente.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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