Nenhum caso ficou tão exposto como o do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), flagrado pelo Estadão recebendo uma mensagem de Bolsonaro. O Contato “JMB”, a quem ele chamou de “presidente”, disse que ele era decisivo para derrotar a reforma tributária. Na resposta, o senador tentou afagar ao máximo Bolsonaro. Disse que tem sofrido com o ex-presidente estando distante, que “esse povo não é o nosso povo”, que está triste e com atuação apagada e que não vê a hora da gente (o bolsonarismo) voltar”. Agradeceu a atenção e consideração, mas respondeu que já tinha empenhado sua palavra para votar a favor da reforma. Um contrariado Bolsonaro respondeu apenas com um emoji do polegar fazendo um ‘joia’.
Apesar de só o caso de Trad ter sido flagrado, ele naturalmente não foi o único a ser procurado. E até houve quem tenha mudado de ideia incentivado por Bolsonaro. Veja o caso de Tereza Cristina (PP-MS), que celebrou que a reforma tenha passado na CCJ com apoio do PP e, um dia depois, no plenário, votou contrariamente, com o argumento de que o texto final piorou.
Mas muitos foram os que não arredaram pé do apoio a uma proposta discutida e defendida há décadas, inclusive por auxiliares de Bolsonaro. O caso de Ciro Nogueira (PI), ex-ministro-chefe da Casa Civil no antigo governo, é um exemplo sólido. O presidente do PP, que vive nas redes bombardeando o governo Lula mas que, nos bastidores, vê seu partido se alinhar em troca de ministérios e da Caixa Econômica Federal, votou sim para a proposta da reforma, apesar dos apelos do ex-chefe.
Também o ex-líder do governo Bolsonaro no Congresso, Eduardo Gomes (TO), mesmo sendo do PL, partido do ex-presidente, votou a favor da reforma defendida pelo governo Lula. A quem tentou convencê-lo a mudar de ideia, incluindo o próprio Bolsonaro, argumentou que sempre trabalhou pela reforma, inclusive quando estava no antigo governo. Por essa lógica, quem pulou do barco foi Bolsonaro e não ele.
A derrota que se completou no Senado já tinha sido construída também na Câmara, quando Bolsonaro bradou contra a reforma e constrangeu o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado mais poderoso atualmente, durante um evento do PL. Na ocasião, o próprio Bolsonaro reconheceu ter errado no posicionamento público. Agora, porém, com Tarcísio, Romeu Zema (Novo) e outros governadores aliados em silêncio, o ex-presidente encampou uma missão inglória nos bastidores e perdeu novamente.