Professor, profissão de segunda classe no Brasil (com comentário nosso)

By | 14/11/2023 1:01 pm
Imagem ex-librisA receita para uma educação de qualidade envolve múltiplos fatores: currículo, material didático, infraestrutura, carga horária, avaliação, gestão, integração entre as escolas e as famílias. Mas – tal como na cozinha um chef grosseiro pode arruinar especiarias requintadas e um chef talentoso pode fazer maravilhas com matérias-primas rudimentares – quaisquer que sejam as potencialidades destes ingredientes, elas só são atualizadas por bons professores.

Se a educação brasileira é sofrível, um dos principais fatores, se não o principal, é a má formação docente. Por ocasião da instauração pelo Ministério da Educação (MEC) de um grupo de trabalho sobre o tema, entidades públicas e privadas envolvidas com educação assinaram uma carta aberta solicitando o avanço de medidas estruturais para a melhoria da formação.

O grupo destaca três grandes preocupações: a expansão da educação a distância (EaD), a baixa qualidade dos cursos e a alta evasão de alunos.

A EaD é uma ferramenta relevante para o acesso e inclusão, mas sua proliferação foi indiscriminada. Segundo o MEC, em 10 anos a quantidade de cursos acadêmicos de EaD cresceu 700%. Na formação dos professores, sobretudo, são necessários cuidados especiais para compensar habilidades relacionais que são mais bem assimiladas presencialmente. Mas justamente na formação docente o crescimento da EaD foi desproporcional. Hoje, 31% dos formandos de ensino superior são de EaD. Na licenciatura e pedagogia são 65%. Na rede particular, 93% dos ingressantes são em EaD, onde a média de alunos por professor é de 171.

Esse problema novo e agudo veio agravar a crônica defasagem dos cursos de formação docente. Em 17 cursos avaliados pelo Enade, a nota média, numa escala de 0 a 100, ficou abaixo de 50. A evasão é alta. Nas licenciaturas em exatas chega a 70%, bem acima da média do ensino superior.

Num círculo vicioso, o desprestígio da carreira docente é causa e consequência desse desempenho medíocre. Entre 35 países avaliados pelo relatório Global Teacher Status, o Brasil é o que menos prestigia seus professores. Segundo João Batista Araújo, presidente do Instituto Alfa e Beto, em países com altos indicadores educacionais os professores são recrutados entre os 30% melhores de sua geração. No Brasil, a esmagadora maioria está entre os 10% de alunos com pior desempenho no Enem. A média salarial dos professores está mais de 20% abaixo da média de outros profissionais com a mesma escolaridade.

Buscar a equiparação da remuneração é importante para atrair talentos. Mas para formá-los é preciso uma série de outras medidas. Cotejando a literatura especializada, o Instituto Todos pela Educação elencou cinco prioridades para o governo federal.

Primeiro, há as relacionadas à regulação, que implicam aprimorar a avaliação in loco e os procedimentos de supervisão, ponderar os fatores mais relevantes para a qualidade da formação docente e utilizar esses dados de forma mais estratégica no cenário da ampliação de cursos, em especial de EaD.

Depois, há propostas relacionadas à inovação e permanência. A formação docente é heterogênea e há diversos casos de excelência. “Há muito que o Brasil pode aprender com o Brasil e o governo federal é preponderante no papel de estimular trocas e cooperação entre instituições de ensino superior.” A evasão e a escassez de licenciaturas em algumas regiões podem ser remediadas com mais bolsas, com valores atrativos.

Finalmente, para apoiar a profissionalização da carreira docente, a qualidade dos concursos subnacionais e o regime de colaboração, o Todos pela Educação recomenda retomar o instrumento nacional de avaliação de candidatos para ingresso na docência, a ser utilizado voluntariamente pelas redes subnacionais para compor seus concursos e processos seletivos.

Formar nossas crianças e adolescentes é condição sine qua non para o progresso cívico e material da Nação. Para isso, é condição sine qua non formar seus formadores. Negligenciar essas condições é a receita certa para perpetuar as deformações sociais brasileiras.

Comentário nosso

Embora tenha melhorado um pouco, a remuneração dos professores ainda não é a ideal. E deveria ser muito melhor para atrair profissionais de melhor qualidade. Há cinquenta e seis anos éramos professor do Estado e funcionário da Rádio Espinharas, mas largamos os dois e preferimos assumir no Banco do Brasil, com a perspectiva de um salário melhor.  A profissão de professor continua a ser pouco valorizada. Ela tem que ser atrativa desde o início para os bons profissionais, que deverão passar por cursos de aperfeiçoamento que os valorize cada vez mais. Até no tratamento. Enquanto qualquer profissional de outras formações é chamado doutor mesmo sem ter doutorado, o professor mesmo que tenha feito mestrado e doutorado continua a ser chamado de professor, embora isto muito nos honre, pela vida em fora pelo reconhecimento. Tenho muitos ex-alunos, Pingolinha é um deles, a maioria deles formados que ainda hoje me chamam de professor. (LGLM)

Comentário

Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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