Os filhos de ninguém

By | 19/11/2023 6:54 am

(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista e professor)

Arrancado do peito vê a mãe pela última vez. É a sina. Pela retina, o menino, a menina…- Dali por diante, e até o fim de seus dias, estarão por conta própria. “Como poderei viver; como poderei viver; sem a tua, sem a tua; sem a tua companhia (…)”.

 

Abandonado à sorte, não sabe o que é chorar. Chorar é para os fracos. Abandonado à morte, não sabe o que é morrer. Morrer é para os fracos. Carregado, feito embrulho, acostuma-se aos braços alheios. Não há laços, abraços… apenas muros. Uma prisão, dentro da prisão. “Se essa rua, se essa rua fosse minha; eu mandava, eu mandava ladrilhar (…) “.

 

Na memória afetiva, a imagem da virgem Maria. E em todas as noites, o mesmo sonho. A quem pertenço? O sentimento de frustração só não é maior que o de rejeição. A quem culpar? “Pai Francisco entrou na roda; tocando seu violão (Balalan, ban, ban, ban); vem de lá seu delegado; e o Pai Francisco foi pra prisão (…)”.

 

– Eu quero um de olhos azuis e cabelos loiros, como nos filmes. – Mas, todos aqui são anjos. – Não, não, esse não… – Um menorzinho. – Vamos passar o anel? E de mãos, entreabertas, esperam ser escolhidos. “O Anel que tu me deste; era vidro e se quebrou; o amor que tu me tinhas; era pouco e se acabou (…)”.

 

Na próxima vez, quem sabe? Mas, o tempo é seu inimigo. Quanto mais crescido, mais distante… mais difícil. – Você voltou! O que houve? – Nada, não… E recolheu-se. Algo que aprendera a fazer, para não ter que crescer. Uma dor que se renova; uma desilusão; uma outra corrida em desfavor do mundo. “Durma neném, que a Cuca logo vem; Papai está na roça e Mamãezinha em Belém (…)”.

 

Não se trata de adotar para fazer um bem a si próprio ou preencher uma falta… – A oração:  Aonde fores, eu vou. Vou andando, vou correndo. Aonde fores, eu vou. Plantarei flores. Terei escola? Farei as lições, comerei legumes… – Aprenderei a ser filho, como o seu filho.  “Vamos, maninha vamos; lá na praia passear; vamos ver a barca nova que do céu caiu no mar; Nossa Senhora está dentro, e os anjinhos a remar (…)”.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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