Lira vai segurar proposta que limita poderes do STF pelo menos até fim do recesso (com comentário nosso)

By | 24/11/2023 8:26 am

Presidente da Câmara quer ganhar tempo na tentativa de esfriar a polêmica, mas será pressionado por bancadas do agro e da bala

Aprovada pelo Senado, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os poderes do Supremo Tribunal Federal (STF) ficará parada na Câmara pelo menos até fevereiro de 2024, quando termina o recesso parlamentar. Em conversas reservadas, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse não haver tempo hábil para a Casa apreciar a PEC neste ano.

A justificativa oficial é de que a pauta da Câmara está carregada com votações de projetos da agenda econômica do governo Lula, que incluem a reforma tributária e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

O presidente da Câmara tem dito que a proposta produzida para restringir poderes do STF não é prioridade
O presidente da Câmara tem dito que a proposta produzida para restringir poderes do STF não é prioridade Foto: Marina Ramos/ Agência Câmara

Falta menos de um mês para o recesso no Congresso, que começa em 22 de dezembro. A PEC que passou pelo crivo do Senado e provocou revolta no Supremo chegará à Câmara na semana que vem. De 4 a 10 de dezembro Lira estará em Dubai, nos Emirados Árabes, onde participará da 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-28).

O presidente da Câmara tem dito que a proposta produzida para restringir decisões individuais de ministros do Supremo não é prioridade e terá um rito de tramitação normal. Na prática, porém, seus aliados admitem que dificilmente Lira entrará em confronto com o Supremo.

Em setembro, o ministro Gilmar Mendes, decano do STF, anulou provas obtidas pela Polícia Federal referentes a compras de kits de robótica com dinheiro público, em Alagoas.

De acordo com as investigações da PF, que duraram oito meses, as compras envolviam empresários ligados a Lira, um assessor próximo, operadores e “laranjas”. Antes, em julho, Gilmar já havia descartado todas as acusações que atingiam o presidente da Câmara nesse caso.

A aprovação da PEC foi vista pelo Supremo como uma “afronta”, além de uma retaliação do bolsonarismo. Ministros da Corte, como o próprio Gilmar, temem que o sinal dado pelo Senado abra brecha para um retrocesso democrático, que contemplaria propostas como o impeachment de magistrados e até mesmo a derrubada de decisões do tribunal.

“Nenhuma instituição tem o monopólio da defesa da democracia no Brasil”, reagiu o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Gilmar, por sua vez, disse que o STF não aceitará “intimidações” de quem quer que seja. ”Esta Casa não é composta por covardes”, afirmou o ministro. “Esta Corte não haverá de se submeter ao tacão autoritário, venha de onde vier, ainda que escamoteado pela pseudo-representação de maiorias eventuais.”

Estadão apurou que, apesar de ganhar tempo, Lira será pressionado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e também pela bancada da bala a levar ao plenário a PEC que limita poderes do Supremo. A FPA reúne 303 deputados e 50 senadores e há tempos está em rota de colisão com o Supremo, como ficou evidente na votação do marco temporal das terras indígenas.

Embora não possa ser reeleito para o comando da Câmara, em 2025, Lira quer emplacar um sucessor e precisa do apoio de seus pares. A eleição que escolherá a nova cúpula do Congresso está longe, mas a campanha já começou.

Comentário nosso

Apesar dos pretensos conhecimentos jurídicos do advogado Rodrigo Pacheco, na sua declaração ele deu provas de uma imbecilidade total. Realmente ninguém tem o monopólio da defesa da democracia, mas o Supremo Tribunal Federal é o guardião da Constituição. Nem o Poder Executivo nem o Poder Legislativo podem afrontar a Constituição. Qual decisão destes dois poderes que contrariem a Constituição podem ser invalidados pelo STF. O Congresso pode até fazer mudanças na Constituição, mas elas tem dispositivo que são intocáveis, a cláusulas pétreas e nestas ninguém pode mexer, a não ser uma Assembléia Nacional Constituinte originária. Isto é uma garantia de que lideranças políticas passageiras não possam mexer na Constituição a seu bel prazer. Os bolsonaristas vão “quebrar a cara” na sua tentativa de afrontar o Supremo Tribunal Federal. São analfabetos jurídicos. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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