Receita para sair da mediocridade (com comentário nosso)

By | 27/11/2023 6:37 pm
Imagem ex-librisO Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014, estabelecia entre suas 20 metas a de triplicar as matrículas na Educação Profissional Técnica até 2024, com uma quantidade de novos alunos superior a 5 milhões. Um recente estudo do Insper mostrou que, se isso acontecer, pode representar um acréscimo de 2,3% no PIB. Para ficar ainda mais clara a relevância desse aumento, convertendo a valores nominais, pelo PIB atual, estaríamos falando em algo perto de R$ 209 bilhões a mais na roda da economia.

Infelizmente, a probabilidade de chegar àquela meta no ano que vem é praticamente nula. Embora o País tenha registrado pequenos avanços, no ano passado o número de matriculados no ensino técnico ficou pouco acima de 2 milhões, de acordo com dados do MEC. É uma lástima, mas o resultado não pode ser encarado como uma derrota definitiva. O caráter decenal do plano de Estado tem esse horizonte largo justamente para atravessar governos sem colocar em risco a importância do cumprimento das metas para a Educação. Em 2024, é fundamental renovar o compromisso.

Os cálculos feitos pelo Insper confirmam o que já se sabia por intuição. A defesa do ensino técnico, que este jornal não cansa de legitimar, favorece não somente os interesses dos jovens, mas toda a política macroeconômica do País. Reduz desigualdades, eleva os salários de quem traz no currículo também a formação técnica e empurra a economia para a frente. Preterir este modelo de ensino é, antes de tudo, abdicar de patamares maiores de crescimento ao longo dos anos, atitude que o Brasil não está em condições de adotar.

Já dissemos aqui que a média de estudantes com formação técnica profissional entre os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) está em torno de 40%, enquanto no Brasil menos de 10% dos estudantes do ensino médio buscam a formação técnica. Para estes, o mercado de trabalho se abre com mais facilidade e os salários são, em média, 32% maiores, de acordo com a pesquisa do Insper, feita a pedido do Itaú Educação e Trabalho.

Torna-se necessária uma intensa campanha para retirar do ensino técnico o estigma de modalidade menor de ensino. Ao contrário, é o mais ancorado à atual revolução tecnológica que virou o setor produtivo do avesso, com automação e digitalização sem precedentes. Sem ampliar esse universo educacional, o País ficará para trás, condenado à mediocridade econômica e à estagnação social. É uma questão que afeta diretamente os jovens, mas, por extensão, rebate em toda a sociedade.

É preciso parar de ver o ensino técnico apenas como uma alternativa ao ensino universitário; pelo contrário, trata-se de um bom caminho também para o ensino superior. Essa busca por excelência tem de ser um tópico prioritário da política pública de Educação, que coordena e organiza os critérios em todos os entes federativos. Como mostrou recente reportagem do Estadão, países desenvolvidos investem para que os alunos cursem o ensino profissional junto com o médio. Não à toa, também alcançam melhores resultados em produção e competitividade. É inadmissível que um país carente de mão de obra qualificada como o Brasil relegue a segundo plano a importância da especialização.

Com a aprovação neste ano da lei que estabelece novas diretrizes para a política de educação profissional e tecnológica, que desde 2019 tramitava no Congresso, é possível que haja um avanço mais efetivo, a partir da integração do ensino técnico com o médio e o superior, e aproveitamento de créditos de áreas afins. O MEC já anunciou considerar prioritário o ensino técnico e já foi encaminhada ao Congresso uma proposta de carga horária mais flexível para o currículo.

Espera-se que as reformulações em andamento neste ano, o aumento na oferta de vagas, novas formas de financiamento e, inclusive, a participação do setor produtivo na formação técnica e na oferta de emprego aos alunos vindos do ensino técnico possam traçar um cenário mais promissor para a meta a ser fixada no Plano Nacional de Educação do ano que vem.

 

Comentário nosso

Nos países mais evoluídos, quarenta por cento da população jovem procura o ensino profissionalizante. No Brasil apenas dez por cento. Ou nós revertemos isso, valorizando o ensino profissionalizante, ou vamos continuar um país de miseráveis. Um amigo meu, formado em Direito, fez um curso de Tecnologia da Informação e depois de formado largo o emprego que tinha no Brasil, conseguido mediante concurso público e foi para a Europa, contrato por uma empresa alemã, para um contrato de experiência, depois de um entrevista pela internet. Hoje, passada a experiência, está ganhando tanto quanto um ministro de tribunal superior aqui do Brasil, e com uma qualidade de vida muito superior ao daqui.  Enquanto isso, colegas de curso de Direito ainda correm atrás do tão sonhado concurso público. (LGLM)

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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